Tuesday, June 19, 2007

O homem por trás da TRAMA



Após um período bastante atarefado e uma pequena pausa nas atualizações do blog, dirijo-me novamente aos leitores para apresentar uma entrevista com o editor do site Trama Virtual, Dago Donato. A entrevista foi feita com exclusividade, no dia 22 de maio. Aproveitei a passagem do Dago pelo Estado, em virtude do Seminário Internacional a Constituição do Comum, no qual ele foi um dos palestrantes. O rapaz foi atingido por um forte resfriado no dia de sua apresentação, mas ainda assim aceitou levar um bate-papo comigo. Foram cerca de 10 minutos de conversa somente interrompidos mediante ao alerta do organizador do evento e prof. do Curso de Comunicação da Ufes, Fábio Malini: a palestra já estava para começar.


Tentei transcrever com a maior fidelidade possível essa conversa. O resultado você poderá conferir abaixo. Antes disso, gostaria de registrar os mais sinceros agradecimentos ao Prof. Fábio Malini, pela intermediação, e ao Dago, pela atenção dispensada. Valeu!



A&P - Como você avalia os impactos das novas tecnologias de produção e difusão na música em geral? De fato a música ficou mais “independente” após o desenvolvimento das novas possibilidades criadas com a internet?


DAGO - O impacto é brutal. Mudou tudo. A internet derrubou um modelo que já existia e criou um novo. Então, agente tá vivendo uma época muito interessante nesse sentido, de buscar novas fórmulas para o mercado de música.Ao mesmo tempo, isso possibilitou às pessoas pararem de escutar o que mandam, o que é ditado pelos veículos. Eu acho que isso é só o começo. Agente pode ficar aqui um fim de semana inteiro e até um ano conversando e ainda assim não conseguir respostas.


A&P - E essas novas tecnologias acabam possibilitando também um aumento na qualidade das gravações, inclusive aquelas feitas em casa, nos chamados “home studios”...


DAGO - Exato. Hoje em dia, o cara grava no quarto dele, ele lança a música do quarto dele e as pessoas dos outros quartos do mundo ouvem isso, saca? E isso é bem interessante.


A&P - E diante disso as gravadoras estão tendo que repensar o seu antigo modelo...


DAGO - É, eu costumo falar que eu não tenho uma esposta pra isso porque se eu tivesse eu tava rico, né (risos). O que eu vejo são algumas gravadoras buscando novos caminhos. Outras se apegam ao antigo modelo até não poder mais. Mas esse novo caminho ele não existe. Se eu disser que ele existe, eu estou mentindo. Você vai por onde acha que a maré vai seguir, mas ainda não existem certezas.


A&P - Então não existe uma fórmula para se fazer dinheiro com música na internet, um ambiente em que o download grátis acaba favorecendo o hábito de não se pagar por música?


DAGO - No Brasil isso é muito difícil cara. Não existe uma cultura de pagar por download aqui no país e eu acho difícil que isso mude. Talvez pela característica do brasileiro mesmo de buscar uma certa vatagem. Por que eu vou pagar por um negócio que eu consigo de graça? Tem também outros motivos. O mercado, por exemplo, está adotando uma coisa mais descartável. É o hit da Britney, ou da Ivete Sangalo. Aquilo toca por dez meses e depois acabou. Só uma música. Nunca trataram o álbum como obra. Agora, ganhar dinheiro é como eu falei, não faço idéia. Vamos descobrir. Se você tiver uma idéia me fala (risos).


A&P - Como você vislumbra o futuro do disco inteiro e mais conceitual nesse mercado de hits?


DAGO - O que eu tenho visto lá fora é que enquanto os discos de artistas pop tem quedas brutais de vendas artistas com mais conceito vendem bem. Então você pega uma banda como o Shins que eu não esperava que estourasse de uma maneira tão vibrante. Eles estreiaram em segundo lugar na parada da Billboard, venderam tantos mil discos. O Modest Mouse estreiou em primeiro lugar. Lá fora ainda existe esse negócio do disco, da obra. Aqui no Brasil também não é difícil. Eu acho que o disco vale pro artista. Vale como um cartão de visita. O disco é a obra total do artista. Mas ganhar dinheiro com isso é que é muito difícil. Você tem que colocar tudo na ponta do lápis para ver se o trabalho dá retorno e no fim acaba não valenado a pena (sob o ponto de vista comercial).



A&P - Como foi trabalhar com um cara como o Carlos Eduardo Miranda, produtor de conceito e personagem significativo da hitória recente da música brasileira?


DAGO - Foi o Miranda quem me chamou para trabalhar na Trama Virtual. Ele é uma figura fantástica, um cara cheio de idéias, com a cabeça muito aberta. Ele tem mais de 40 anos e ainda está muito aberto para o mundo, coisa rara no meio musical. Ao mesmo tempo ele é uma usina, né cara? É até mais difícil trabalhar com ele, porque eu queria organizar e ele desorganizar, tá ligado? (risos) Pode até não ser tão organizado assim, mas o cara é foda. O Miranda está sempre de bem com a vida. Na verdade, eu não tenho nem palavras pra descrevê-lo.


A&P - O Cansei de Ser Sexy foi o exemplo de uma banda que teve uma boa aceitação no site da Trama Virtual e acabou migrando, sendo lançada pelo selo da Trama. Vocês têm mais alguns projetos nesse sentido de lançar bandas com boa visibilidade na web? Você poderia adiantar alguma coisa?


DAGO - Agente lançou, além do Cansei, o Rock Rocket, uma banda de São Paulo, e o Zefirina Bomba, da Paraíba. Essas bandas não alcançaram o que foi conquistado com o Cansei de Ser Sexy, mas têm trabalhos bem interessantes. A idéia da trama agora é dar uma freiada no lançamento do CD físico. Nós vamos continuar lançando, mas a idéia é terceirizar. Não vale mais a pena para a Trama assumir essa operação. Os presidentes acreditam em outras paradas hoje em dia. A idéia é ir para um outro lado, investir na Trama Virtual, que aparecerá logo com um monte de novidades. Vamos criar comunidades. Eu não sei nem se posso falar, mas existe a idéia de dividir receita com as bandas que é uma coisa que ninguém fez até hoje no Brasil. Parte das verbas dos patrocinadores poderão ser destinadas às bandas que tiverem suas músicas baixadas. Porque nossa intenção não é só a de capitalizar e trazer dinheiro para a empresa mas existe o interesse de servir de vitrine para música independente. Agente faz um programa de TV e não ganha um tostão com isso. Estamos colocando no ar bandas que não tem espaço na TV em geral. Nossa intenção é continuar seguindo por esse caminho.