Monday, October 31, 2005


Homossexualismo adelescente nas páginas da Istoé

A edição de 2 de Novembro da revista “Istoé” traz na parte de comportamento uma matéria muito interessante a respeito do homossexualismo na adolescência. É importante fomentar esse tipo de discussão principalmente pelo fato de tratar-se da uma fase extremamente complexa sob o ponto de vista psicológico. Para além dos clichês, nesses casos é realmente muito mais complicado para um adolescente assumir uma posição aberta em relação a sua sexualidade, tanto por questões sociais, econômicas e psicológicas - que envolvem inclusive a aceitação própria em relação a sua sexualidade.

Bem, não sejamos hipócritas. Eu realmente não acho a coisa mais bacana do mundo um romance entre dois marmanjos, esse barato de barba roçando, coisa e tal. Não acredito também na chamada “importância” da diversidade sexual nesse sentido, o que faz parecer que se não existissem gays nós deveríamos produzi-los para o bem da sociedade. Talvez me estigmatizem por essas posições, o que posso dizer: faz parte da vida. O fato é que o que eu penso ou não a respeito, se eu gosto da idéia ou não, também não faz a mínima diferença. As relações homossexuais foram/são uma realidade nas mais diversas civilizações ao longo da história da humanidade. São diversas as tentativas de explicar que pessoas podem sentir atração pelo mesmo sexo.

Pensar indivíduos primeiramente como seres humanos é sempre uma solução. Não se trata de complacência e muito menos de incentivo, mas de respeito e tolerância. Conceitos não muito complicados a partir do momento que pessoas devem ser reconhecidas por seus valores e ações e não por suas opções sexuais, ideológicas ou culturais. Tolerância e amor ao próximo têm muito mais a ver com aceitar as pessoas e seus diferentes pontos de vista do que pensar que elas necessitam de uma espécie aprovação para gerir suas vidas.

É importante também pensar esse contexto sob a ótica da lógica de consumo da sociedade capitalista. A catarse promovida pelos meios de comunicação é restrita aos estratos da sociedade com poder aquisitivo para mobilizar o desenvolvimento de um outro nicho de consumo. O chamado “pink money” (poder de compra dos homossexuais) promove a elaboração de novos conceitos e produtos, principalmente na industria do entretenimento. Piadas de cunho homofóbico são vistas como algo deplorável (e não pretendo dizer que não o sejam), mas dizer que uma festa “só tem gente bonita” é algo completamenta aceitável e até objeto de promoção. O conceito de “gente bonita” pode ter ainda duas significações que, contudo, não se excluem: pessoas que não se encaixam nos padrões industriais de beleza de nossa sociedade; e pessoas pobres. Não nos enganemos, a diferença de tratamento entre as duas atitudes não é uma mera coicidência cultural (se é que esse conceito – quase neologismo – se aplica a alguma coisa).
Considerar que alguém, simplesmente pelo fato de ser homossexual, pode te assediar de forma explicita e intransigente não é menos preconceituoso do que pensar que um indivíduo pode te assaltar por ser preto, pobre e estar mal-vestido

Thursday, October 27, 2005


Mundialização da Cultura e Idiotice Generalizada

Nunca pensei em viver para ver o funk carioca ganhar staff de movimento cult. Sim, eu acreditei a princípio que a incidência desse gênero musical em festas de classe média fosse uma simples questão de excentricidade. O fato é que, exatamente quando os bailes funk assumem o seu formato mais “limpinho”, socialmente seguro e coincidentemente lucrativo (!) nós vemos emergir – sem contudo questionar sua gênese – um novo case da cultura pop mundial: M.I.A.

Uma indiana cantando funk brasileiro em algum lugar de Londres já seria por si só algo digno de menção. Praticamente um exemplo caricato, retirado de alguns dos textos sobre mundialização da cultura que tenho estudado ao longo do curso de jornalismo. Essa bricolagem cultural quimérica poderia não passar de um simples modismo, caso a mídia nacional não passasse a tratar a garota como a grande descoberta atual da música.

O funk – gostemos ou não – sempre esteve bem diante de nós. Sempre se posicionou de forma incômoda em nossas cabeças como demonstração de uma cultura periférica, marginalizada. O cotidiano nada poético dos morros cariocas era agressivo demais para ser consumido em massa pelos mais distintos estratos sociais brasileiros. A solução vem de fora. M.I.A., menina bonita, rica e exótica; apropriação de algo bem conhecido por nós brasileiros, só que em um formato digno dos padrões globais de consumo.

Bem menos agressiva a partir de um ponto de vista social, a estrela encontra a pista livre e desfila por entre a idiotice generalizada. Nada contra aqueles que se embalam ao som da pequena, mas falar como se o que ela faz fosse uma revolução no cenário musical, ainda mais para um brasileiro, não pode ter outro nome se não “idiotice”. Sejamos um pouco menos inocentes com as mensagens transmitidas pela MTV. Se você gosta de funk, vá na fonte, ouça Deise da Injeção.

Thursday, October 20, 2005


Pearl Jam em SP?

Arrasta-se por tempo indeterminado o impasse a cerca da polêmica realização do show do Pearl Jam em São Paulo. A prefeitura – contrariando expectativas – ainda não se posicionou definitivamente a respeito da liberação do Estadio do Pacaembu. A CIE, empresa organizadora do evento, afirma intransigentemente que não pensa em mudar o show para outros lugares da cidade. Antes disso, cogita a possibilidade de transferi-lo para Belo Horizonte ou Brasília, numa postura bem mimada e arrogante; quase escrevendo na testa: “Nós não precisamos de São Paulo” – o que, sinto muito, mas não deixa de ter uma pontinha de verdade.

Em meio a toda essa incerteza e pressão por todos os lados, o que surgem são meras especulações. Muitas dotadas de uma tocante falta de compromisso com a verdade. O site “O Fuxico”, por exemplo, divulgou semanas atrás - em primeira mão (talvez nem os resposáveis tenha se dado conta disso!) - a liberação do Pacaembu para a realização do evento.

De concreto mesmo somente a declaração do prefeito José Serra – carinhosamente chamado de Mr. Burns por alguns dos enfurecidos fãs da banda norte-americana – de que, independente do local, o show acontecerá em São Paulo. O tucano deixa claro que não quer jogar areia na marmita da rapaziada e, pra variar, tira um pouco das costas o título de inimigo número um do rock’n’roll.

O espaço coletivo dentro do espaço público.

Poderia citar aqui uma gama de motivos culturais e turísticos para considerar esse show muito importante para a cidade de São Paulo – a exemplo da Vereadora Petista Soninha, em sua carta ao prefeito Serra – no entanto, além de bastante óbvio para qualquer um que saiba um pouco sobre a história da música mundial, não considero que esteja na banda o ponto central desta problemática espinhosa. De fato, se uma empresa privada se apropria do espaço físico urbano e coletivo, isso deve ser feito de maneira responsável, a fim de se evitar transtornos. Manter um mínimo consenso que legitime a ação junto à comunidade local e ao poder público é imprescindível dentro dessas condições. O problema é que palavras como consenso e legitimidade nem sempre estão no alvo das relações de queda de braço envolvendo os atores sociais em questão. Muito pouco se fez em matéria de organização para reduzir o caos de veículos estacionados em locais impróprios, vandalismo e falta de saneamento nas vias adjacentes ao estádio, em eventos realizados anteriormente.

Definir apresentaçãoes instaladas no local como “predatórias e comerciais” não está muito distante da realidade. Que o digam nossos vizinhos de Jardim Camburi (Vitória, ES), que passam por situação semelhante durante os quatro dias de carnaval fora de época na orla da Praia de Camburi. O famoso Vital, que acontece anualmente aqui em Vitória, vem – já ha algum tempo – provocando polêmica entre a Organizadora Onda Luz Eventos e associações de bairros visinhos. Quando pessoas finalmente se organizam para reivindicar a solução de problemas dessa ordem, são comumente tachadas como “reacionárias”, “conservadoras” por outras que acabam confundindo seu prazer e entretenimento – ou mesmo seu lucro - com a falta de respeito para com um espaço que é de todos.

Nesses casos, sente-se a necessidade de se restaurar o conceito de espaço público. Uma ampla discussão que procure novas alternativas para a produção de consenso. Em uma época em que pensar o coletivo se tornou algo tão importante, mediante a explosão de individualismos e visões unilaterais; em que as noções de público e privado se confundem, beirando a total esquizofrenia e o Estado se subordina cada vez mais a enteresses particulares, econômicos e especulativos; é necessário que os cidadãos pensem a política não como uma balança de forças heterogêneas, mas como a possibilidade de se atingir o bem-estar comum (ou algo próximo disso).