Wednesday, December 21, 2005

Jhonny Rotten, Vocalista do Sex Pistols
The London Calling
Uma breve narrativa a respeito das raízes do movimento Punk

A década de 70 foi a era das desilusões. O mundo sacudia-se em uma série de mudanças sociais, técnicas e culturais. As tentativas frustradas de teorização dos fenômenos de tranformação que se estendem até a contemporâneidade eram razas e incipientes. Se por um lado a sociedade ingressava em uma nova realidade digital e mundializada, sem contudo ter uma mínima noção do que os aguardava para além do muro de Berlim; por outro, as crises mundiais rompiam com o clima de properidade do pós-guerra, desmascarando a cínica ilusão de paz e comunhão em ambos os blocos que disputavam a hegemonia universal.

À época, O movimento hippie e a música progressiva já davam claros sinais de esgotamento em seu papel de contra-cultura. O grito de “paz e amor” ficara abafado diante da constante militarização das nações. O movimento de certa forma se rendeu ao fanatismo ocultista das inúmeras seitas espiritualistas que, a exemplo de Mr. Manson, exederam todos os limites do bom senso. Surgiam os yuppies com seus carros conversíveis, ações na bolsa de valores, ensaiando os primeiros passos de uma música eletrônica, digitalizada e sem qualquer carga ideológica. O jovem se sentia abandonado por seu Estado (Após o regresso do Vietnã, muitos jovens norte-americanos foram deixados a mígua pelo Governo conservador), pressionado pelos grupos tecnocratas que ditavam as novas regras do mercado de trabalho. As famílias se desestruturavam, mergulhadas em um universo paralelo de falso moralismo e hipocrisia.

Na Inglaterra do fim de 1970, a situação era insustentável. A escória – vagabundos de todo tipo, homossexuais, prostitutas, excluídos da “terceira revolução industrial” – se acumulavam em guetos sujos, sem perspectivas. Eles precisavam de uma outra opção, um novo movimento cultural que desse conta de toda essa dinamite pueril que se acumulava nos subúrbios de Londres. Surgia assim o punk, berrando em alto e com acopanhamento de guitarras mal tocadas e distorcidas o no future a que estava exposta essa nova geração contra-cultural. Roupas de couro e alfinetes perfurando corpos faziam alusão ao sadomasoquismo e às condutas sexuais fortemente reprimidas pela sociedade patriarcal inglesa. A erupção desse movimento fazia coro contra uma esquerda inglesa fracassada e contra a direita conservadora, era a anarquia nas ruas agredindo e ferindo à sua maneira uma sociedade opressiva.

Surgiram nessa época bandas épicas do punk mundial como Ramones e Blondie, nos EUA e The Clash e Sex Pistols, na Inglaterra. A última “montada” por Malcolm McLaren para promover a loja de sua mulher, Vivienne Westwood. A SEX – loja de Vivienne – tornou-se o maior símbolo do vestuário punk, bem como da mercantilização do estilo que, como podemos perceber, já surgiu com sua própria “forma-mercadoria”.

Acho que a principal questão a ser abordada agora é o papel do punk rock no mundo atual. O movimento punk foi válido por décadas, como exposto acima, para dar vazão à expressividade de um tipo alternativo de público. Mas hoje, será que faz sentido atribuir ao que atualmente se entitula “punk” o status de movimento contra-cultural. Não pretendo terminar aqui essa discussão. O mundo de perpectivas que foram construídas a partir da década de 70 é extremamente amplo. dedicarei outro post isso....até lá conto com suas contribuições.

principais fontes:

Revista Cult - edição 96
A Cultura da Mídia - Douglas Kellner

Wednesday, December 14, 2005


O Bom Rock Irlandês em Vitória

O blog Álcool e Prozac inaugura agora uma nova série de postagens sobre músicos e bandas capixabas. A banda escolhida para a primeira matéria é a Dublin.
A banda faz cover de um dos maiores grupos do rock mundial, U2. Seu trabalho é diferenciado de bandas que fazem cover de outros artistas, pois seus integrantes são fãs e admiram muito o trabalho da banda irlandesa. Fundada em 98, a banda em 2002, teve uma mudança em seus vocais e agora é composta por: Rafael Sodré (Guitarra), Rodolfo Toniati (Baixo), Wilken Meirelles (Voz) e Tennessee Marx (Bateria). Segundo seu site (http://www.bandadublin.com.br/), a proposta é oferecer aos fãs do U2 a oportunidade de assistir um trabalho de fidelidade e paixão nunca visto em Vitória. Prova da dedicação ao trabalho é a rotina de ensaios semanal e antes de qualquer show. Em uma entrevista concedida por e-mail, Rafael relata o que sente como resposta dos fãs."Tão emocionante quanto tocar as músicas do U2 é ver a reação dos fãs a cada música".
Questionado sobre composições, o guitarrista afirma que esta é uma pergunta frenquente, e a vê como um ponto positivo: "Esta é uma pergunta que sempre teremos que responder !!! risos... mas se as pessoas e os músicos de Vitória cobram isso da Dublin de alguma forma, é por que o nosso trabalho em cima do palco é bom e causa a curiosidade nas pessoas de conhecerem um outro lado da Dublin. Mas isso ainda está distante... e quando acontecer, não será mais a "Dublin"". A falta de casas para shows e a não visão da cultura como investimento também foram questões tema das respostas de Sodré. Mesmo com essas dificuldades a Dublin é uma das bandas capixabas com a agenda mais constante. Só de Outubro pra cá foram seis e mais um ensaio aberto no estúdio galpão.
No site da banda é possivel ver e ouvir o som deles e ainda se atualizar sobre U2 e saber da agenda dos caras.
A provável vinda de Bono, The Edge, Adam e Larry ano que vem ao Brasil, deve render à sua banda cover uma procura e interesse ainda maior do público.

Friday, December 02, 2005


  • NOVA CARA, NOVA ALMA!

    Para além das mudanças no layout e na organização do conteúdo, esse mês de dezembro marca uma mudança profunda no Álcool e Prozac. Passada a avaliação do blog na disciplina de jornalismo on line e depois de uma importante fase de autocrítica, percebemos a mudança nos ventos e a questão fundamental: Por que não mudar também?

    Sem dúvida o blog passa agora a ser mais espontâneo do que nunca (dá para imaginar??), a liberdade é total e irrestrita e o clima de euforia toma conta da atmosfera. Mas, como sempre ha de se ter um “mas” e principalmente aqui no A&P, um pouco de organização não faz mal a ninguém. As atualizações serão mais freqüentes, sistematicamente efetuadas ao menos três vezes por semana, em dias ainda por ser fixados conforme a disponibilidade da minha nova agenda.

    Àqueles que tem acompanhado meus posts (que não foram muitos, é bem verdade) meus mais sinceros agradecimentos, sei que tal leitura nem sempre é facilmente digestível e por isso agradeço os minutos que dedicam à leitura do conteúdo deste site. O Álcool e Prozac não perderá suas características centrais, como o carácter pessoal, ácido e crítico com que venho explanando meus humildes pontos de vista. Contudo tão essenciais a esse blog são os comentários de vocês. Discordem, blasfemem, profanem, ultrajem....participem!!!


    Tom Zé e a Opereta Segregamulher e Amor


    Violência contra a mulher e massificação do pagode são os temas centrais do novo disco do cantor, compositor, filósofo e eterno tropicalista Tom Zé. Inusitado, não? Para ele a relação é natural. O pagode e a mulher são os grandes excluídos deste início de milênio. “As primeiras política e socialmente, e o último culturalmente”, explica Tom.

    O artista repete o processo de pesquisa feito com o Samba há cerca de 20 anos atrás e que deu origem ao disco “Estudando o Samba”. Desta vez o objeto de estudo é o pagode, gênero considerado em baixa pelo compositor. Ele mesmo garante que não há nada de irônico nisso, trata-se de uma homenagem.

    Pós-modernista, filósofo, louco ou simplesmente genial? Qualquer que seja a definição não é o suficiente para contemplar todas as facetas da personalidade artística dessa grande figura da música brasileira. Reinventar-se é um conceito bastante familiar para Tom Zé, que foge dos clichês e traça um paralelo entre poesia e crítica social diagnóstica. O disco contém ainda críticas ácidas em relação à decadência do amor, como um sentimento puro e espontâneo no ventre da sociedade individualista contemporânea. Segundo Tom a banalização do conceito de amor é justamente a prova de que o seu real sentido anda em vias do esquecimento. “O que o amor? Aquele da novela das oito, ou será que é o da novela das sete?” desafia em recente entrevista à MTV Brasil.


Monday, October 31, 2005


Homossexualismo adelescente nas páginas da Istoé

A edição de 2 de Novembro da revista “Istoé” traz na parte de comportamento uma matéria muito interessante a respeito do homossexualismo na adolescência. É importante fomentar esse tipo de discussão principalmente pelo fato de tratar-se da uma fase extremamente complexa sob o ponto de vista psicológico. Para além dos clichês, nesses casos é realmente muito mais complicado para um adolescente assumir uma posição aberta em relação a sua sexualidade, tanto por questões sociais, econômicas e psicológicas - que envolvem inclusive a aceitação própria em relação a sua sexualidade.

Bem, não sejamos hipócritas. Eu realmente não acho a coisa mais bacana do mundo um romance entre dois marmanjos, esse barato de barba roçando, coisa e tal. Não acredito também na chamada “importância” da diversidade sexual nesse sentido, o que faz parecer que se não existissem gays nós deveríamos produzi-los para o bem da sociedade. Talvez me estigmatizem por essas posições, o que posso dizer: faz parte da vida. O fato é que o que eu penso ou não a respeito, se eu gosto da idéia ou não, também não faz a mínima diferença. As relações homossexuais foram/são uma realidade nas mais diversas civilizações ao longo da história da humanidade. São diversas as tentativas de explicar que pessoas podem sentir atração pelo mesmo sexo.

Pensar indivíduos primeiramente como seres humanos é sempre uma solução. Não se trata de complacência e muito menos de incentivo, mas de respeito e tolerância. Conceitos não muito complicados a partir do momento que pessoas devem ser reconhecidas por seus valores e ações e não por suas opções sexuais, ideológicas ou culturais. Tolerância e amor ao próximo têm muito mais a ver com aceitar as pessoas e seus diferentes pontos de vista do que pensar que elas necessitam de uma espécie aprovação para gerir suas vidas.

É importante também pensar esse contexto sob a ótica da lógica de consumo da sociedade capitalista. A catarse promovida pelos meios de comunicação é restrita aos estratos da sociedade com poder aquisitivo para mobilizar o desenvolvimento de um outro nicho de consumo. O chamado “pink money” (poder de compra dos homossexuais) promove a elaboração de novos conceitos e produtos, principalmente na industria do entretenimento. Piadas de cunho homofóbico são vistas como algo deplorável (e não pretendo dizer que não o sejam), mas dizer que uma festa “só tem gente bonita” é algo completamenta aceitável e até objeto de promoção. O conceito de “gente bonita” pode ter ainda duas significações que, contudo, não se excluem: pessoas que não se encaixam nos padrões industriais de beleza de nossa sociedade; e pessoas pobres. Não nos enganemos, a diferença de tratamento entre as duas atitudes não é uma mera coicidência cultural (se é que esse conceito – quase neologismo – se aplica a alguma coisa).
Considerar que alguém, simplesmente pelo fato de ser homossexual, pode te assediar de forma explicita e intransigente não é menos preconceituoso do que pensar que um indivíduo pode te assaltar por ser preto, pobre e estar mal-vestido

Thursday, October 27, 2005


Mundialização da Cultura e Idiotice Generalizada

Nunca pensei em viver para ver o funk carioca ganhar staff de movimento cult. Sim, eu acreditei a princípio que a incidência desse gênero musical em festas de classe média fosse uma simples questão de excentricidade. O fato é que, exatamente quando os bailes funk assumem o seu formato mais “limpinho”, socialmente seguro e coincidentemente lucrativo (!) nós vemos emergir – sem contudo questionar sua gênese – um novo case da cultura pop mundial: M.I.A.

Uma indiana cantando funk brasileiro em algum lugar de Londres já seria por si só algo digno de menção. Praticamente um exemplo caricato, retirado de alguns dos textos sobre mundialização da cultura que tenho estudado ao longo do curso de jornalismo. Essa bricolagem cultural quimérica poderia não passar de um simples modismo, caso a mídia nacional não passasse a tratar a garota como a grande descoberta atual da música.

O funk – gostemos ou não – sempre esteve bem diante de nós. Sempre se posicionou de forma incômoda em nossas cabeças como demonstração de uma cultura periférica, marginalizada. O cotidiano nada poético dos morros cariocas era agressivo demais para ser consumido em massa pelos mais distintos estratos sociais brasileiros. A solução vem de fora. M.I.A., menina bonita, rica e exótica; apropriação de algo bem conhecido por nós brasileiros, só que em um formato digno dos padrões globais de consumo.

Bem menos agressiva a partir de um ponto de vista social, a estrela encontra a pista livre e desfila por entre a idiotice generalizada. Nada contra aqueles que se embalam ao som da pequena, mas falar como se o que ela faz fosse uma revolução no cenário musical, ainda mais para um brasileiro, não pode ter outro nome se não “idiotice”. Sejamos um pouco menos inocentes com as mensagens transmitidas pela MTV. Se você gosta de funk, vá na fonte, ouça Deise da Injeção.

Thursday, October 20, 2005


Pearl Jam em SP?

Arrasta-se por tempo indeterminado o impasse a cerca da polêmica realização do show do Pearl Jam em São Paulo. A prefeitura – contrariando expectativas – ainda não se posicionou definitivamente a respeito da liberação do Estadio do Pacaembu. A CIE, empresa organizadora do evento, afirma intransigentemente que não pensa em mudar o show para outros lugares da cidade. Antes disso, cogita a possibilidade de transferi-lo para Belo Horizonte ou Brasília, numa postura bem mimada e arrogante; quase escrevendo na testa: “Nós não precisamos de São Paulo” – o que, sinto muito, mas não deixa de ter uma pontinha de verdade.

Em meio a toda essa incerteza e pressão por todos os lados, o que surgem são meras especulações. Muitas dotadas de uma tocante falta de compromisso com a verdade. O site “O Fuxico”, por exemplo, divulgou semanas atrás - em primeira mão (talvez nem os resposáveis tenha se dado conta disso!) - a liberação do Pacaembu para a realização do evento.

De concreto mesmo somente a declaração do prefeito José Serra – carinhosamente chamado de Mr. Burns por alguns dos enfurecidos fãs da banda norte-americana – de que, independente do local, o show acontecerá em São Paulo. O tucano deixa claro que não quer jogar areia na marmita da rapaziada e, pra variar, tira um pouco das costas o título de inimigo número um do rock’n’roll.

O espaço coletivo dentro do espaço público.

Poderia citar aqui uma gama de motivos culturais e turísticos para considerar esse show muito importante para a cidade de São Paulo – a exemplo da Vereadora Petista Soninha, em sua carta ao prefeito Serra – no entanto, além de bastante óbvio para qualquer um que saiba um pouco sobre a história da música mundial, não considero que esteja na banda o ponto central desta problemática espinhosa. De fato, se uma empresa privada se apropria do espaço físico urbano e coletivo, isso deve ser feito de maneira responsável, a fim de se evitar transtornos. Manter um mínimo consenso que legitime a ação junto à comunidade local e ao poder público é imprescindível dentro dessas condições. O problema é que palavras como consenso e legitimidade nem sempre estão no alvo das relações de queda de braço envolvendo os atores sociais em questão. Muito pouco se fez em matéria de organização para reduzir o caos de veículos estacionados em locais impróprios, vandalismo e falta de saneamento nas vias adjacentes ao estádio, em eventos realizados anteriormente.

Definir apresentaçãoes instaladas no local como “predatórias e comerciais” não está muito distante da realidade. Que o digam nossos vizinhos de Jardim Camburi (Vitória, ES), que passam por situação semelhante durante os quatro dias de carnaval fora de época na orla da Praia de Camburi. O famoso Vital, que acontece anualmente aqui em Vitória, vem – já ha algum tempo – provocando polêmica entre a Organizadora Onda Luz Eventos e associações de bairros visinhos. Quando pessoas finalmente se organizam para reivindicar a solução de problemas dessa ordem, são comumente tachadas como “reacionárias”, “conservadoras” por outras que acabam confundindo seu prazer e entretenimento – ou mesmo seu lucro - com a falta de respeito para com um espaço que é de todos.

Nesses casos, sente-se a necessidade de se restaurar o conceito de espaço público. Uma ampla discussão que procure novas alternativas para a produção de consenso. Em uma época em que pensar o coletivo se tornou algo tão importante, mediante a explosão de individualismos e visões unilaterais; em que as noções de público e privado se confundem, beirando a total esquizofrenia e o Estado se subordina cada vez mais a enteresses particulares, econômicos e especulativos; é necessário que os cidadãos pensem a política não como uma balança de forças heterogêneas, mas como a possibilidade de se atingir o bem-estar comum (ou algo próximo disso).