Tuesday, March 20, 2007

HOMENAGEM ATRASADA, MAS MERECIDA...


Andrea. Canto dos Malditos na Terra do Nunca


Neste último dia 8 de Março não pude deixar de pensar no papel importantíssimo das mulheres na música pop mundial. Acredito que seja mais que merecida uma homenagem do A&P a elas que, sem dúvida alguma, exercem uma influência central na maior parte das coisas boas produzidas até hoje. As mulheres não só serviram de inspiração para inúmeras belas canções como, desde o princípio, souberam empunhar instrumentos e fizeram história nos palcos de todo o mundo. A despeito de todo o preconceito que ainda teima em existir, elas marcaram o cenário musical ora pela sensibilidade e ternura características, ora pela agressividade e intensidade de suas obras.

Para início de conversa, deixo clara aqui a minha total parcialidade ao tratar do tema. Refiro-me neste texto a duas paixões que me acompanham a tanto tempo quanto minhas vagas memórias já não conseguem remontar. Duas paixões que muitas vezes se completam e até se confundem. Tenho minhas predileções quanto à música e, de certo, as tenho também quanto às mulheres.

Joan Jett não poderia ter sido mais enfática. Elas amam o rock’n’roll. E quanto a nós. Bem, nós as amamos. Desde as musas do Jazz das décadas de 50 e 60 – Billie Holiday, Nina Simone, etc. – até Rita Lee e Brody Dale (The Distillers), acho que amei todas elas, com intensidades diferentes, em momentos diferentes.

Aos 16 anos, por exemplo, o som do quarteto vegan de São Paulo, Dominatrix, fazia muito a minha cabeça. Letras engajadas, guitarras sujas e pesadas, uma bateria barulhenta. Quatro garotas em cima do palco, gritando alto, para marmanjo nenhum botar defeito. Se por um lado me arrebatava esse espírito independente e forte, hoje aprendi a não negligenciar a beleza leve e natureza doce de uma Norah Jones, Leslie Feist, entre tantas outras que ainda fazem meu coração bater muito mais forte.

Meus amigos, as mulheres são bem diferentes umas das outras. Somente um grande tolo para dizer que todas são iguais. Eu, pessoalmente, aprecio a personalidade feminina com a mesma diversidade com que aprecio minhas playlists.

Por falar em Norah Jones, na semana passada, o seu álbum mais recente “Not Too Late” ocupava o primeiro lugar da Billboard. O disco foi apontado pela crítica como o mais diversificado e ousado da cantora. Este é o seu terceiro disco e já na sua semana de estréia atingiu a marca de mais de 400 mil cópias vendidas nos Estados Unidos.

No Brasil, cabe destacar duas bandas novas e muito legais capitaneadas por “frontwomans”. De Salvador, O Canto dos Malditos na Terra do Nunca para mim é referência. Além dos vocais bem peculiares e melódicos, Andrea Martins é a letrista e principal compositora da banda. A presença da banda está garantida no Abril pro Rock 2007, festival que reune a nata do rock nacional na cidade de Recife. Andrea e companhia se apresentam no domingo, dia 15 de abril, no palco dois.

Também revelada no palco do programa Bandas Novas – extinto da grade da MTV Brasil, enquanto a emissora disperdiça espaço com enlatados norte-americanos do tipo “Made” - o Luxúria é outra banda que tem na sua vocalista Marjorie Storch um charme especial. A banda está na estrada, fazendo shows memoráveis e divulgando seu primeiro trabalho.

Para finalizar, deixo com vocês uma dica muito legal de outra banda nova com vocais femininos, o Night Driving in Small Towns. Tenho ouvido muito esse som. Acessem http://www2.blogger.com/www.myspace.com/nightdrivinginsmalltowns e divirtam-se. A banda foi eleita em dezembro uma das vinte melhores bandas independentes no MySpace, com a canção Close Encounters (Muito boa!!!). Aproveito aqui para deixar meus mais sinceros agradecimentos as três gerações de mulheres que fazem da minha vida muito mais feliz: Maria, Cristina e Marcele (vó, madre e amor, respectivamente), irmãs (Lê e Didi) e amigas (especialmente Tatá, Letícia e Iani). Amo vcs!

Thursday, March 08, 2007

Nelson Gonçalves e a memória analógica




Nos últimos tempos, quase sem qualquer motivo, me veio a lembrança deste disco especial. Um dos discos do acervo de bolachões da minha querida vovó. Lembro que eu adorava desorganizar aquela coleção. Olhava suas capas sem, contudo, entender a mágica que se escondia dentro daqueles objetos achatados que a mim pareciam mais quadros ou fotografias do que qualquer outra coisa. Talvez eu não estivesse tão enganado. Aqueles vinís eram sim como fotografias, retratos de um tempo, repletos de subjetividade e das mais diferentes colorações. Tempos depois eu viria a descobrir a principal dimensão daquelas obras, o som. Mas naquele momento eram as capas que me chamavam bastante atenção. Lembro de ficar petrificado diante da capa de um vinil do Iron Maiden. Não me lembro exatamente que álbum, mas, como sempre, a imagem do Eddie ilustrava de maneira horrenda e demoníaca o som do quinteto inglês. Aquilo povoou meus pesadelos durante algum tempo. Mesmo assim, eu gostava de admirá-la. Venho de família italiana e fervorosamente católica, não sabia por que “diabos” aquela atividade contemplativa me soava mais como uma suave contravenção. Algo que eu não deveria mas (ou talvez, por isso mesmo) adorava fazer. Sem saber, eu aprendia como a arte poderia ser de certa forma subversiva e me apaixonava por esse caracter insurgente que marca minhas predileções artísticas até hoje. Bem, cabe aqui também salientar que, ao contrário do que possa ficar subentendido, minha doce vovó nunca ouviu Iron Maiden. Aquele disco foi uma aquisição do meu tio mais novo que acabara junto aos demais artigos musicais da casa.

Lembro também que foi a partir deste acervo que descobri uma bandinha pop de liverpool chamada Beatles, conhecem??? Pois é, gostava muito de apreciar a capa do “Beatles for Sale”, de 1964 (até hoje um dos meus prediletos). Aos 12 anos, eu estaria pegando aquele vinil emprestado com a minha vó Bia e dando início a minha paixão pela música desses quatro ingleses estranhos, de cabelo lambido.

Leitores, me perdoem os rodeios. Falar da coleção de discos da minha vó me agrada bastante. Poderia escrever páginas e páginas em meio a tais recordações. Mas é a respeito de um em especial que eu gostaria de escrever hoje. Junto com o LP dos Beatles, minha vó me faria mais tarde o valioso empréstimo de um álbum de Nelson Gonçalves, entitulado “O Tango na voz de Nelson Gonçalves”. Bem verdade que, quando criança, a capa deste disco (apesar de extraordinária!!) não me chamara muita atenção. Um homem com vestimentas típicas da década de 1950 e um pomposo chapéu observava uma dama abraçada a outro cavalheiro com indumentária similar. Não sei porque essa capa não despertou meu interesse quando muleque, como também não sei o porquê de ter apanhado aquele LP emprestado. Com toda sinceridade, aquilo me parecia antiquado, ultrapassado, o que é uma impressão primária natural de uma obra da segunda metade da década 50. Por ironia do destino, aquilo foi parar no meu toca discos. Acho que foi indicação da minha querida vovó que era realmente apaixonada por aquele som.

Um mundo de coisas me separava da prensagem daquele LP. Guerras haviam começado e acabado, ídolos foram assassinatos, o movimento hippie, o punk, o muro de Berlim e até o grunge de Seattle, tudo aquilo entre nós. Entre o fim da década de 90, que era onde eu estava, e o ano de 1956, ano em que (se não me engano) o disco foi lançado, dez anos antes de minha mãe nascer. Um amor impossível, muitos pensariam. Por ironia do destino aquele LP foi parar nas minhas mãos e como um golpe fatal deste mesmo destino eu me apaixonei. Senti saudades. Tentei voltar no tempo. Até perceber que seria inútil.

A verdade era triste, eu nunca faria parte da boemia ébria que me abatia ao ouvir canções como “Palhaço”, “Corrientes 348” e “Vermelho 27”. Eu nunca andaria por aquelas ruas da capa do disco, não beijaria a garota do vestido preto. Por algum motivo, eu nascera no tempo errado. Passei muito tempo ressentido por ter nascido no tempo errado. A sensação de nostalgia piorava quando eu ligava a TV e via uma loura e uma morena rebolando seminuas ao som de algo um pouco parecido com música. Nada contra louras e morenas seminuas, muito pelo contrário. Mas faltava alguma coisa. Algo ficou perdido nesse processo de “evolução” da música pop (ps. Para os menos perspicazes, estou sendo irônico).

Com o tempo eu descobri que não precisava ligar a TV ou o rádio para ouvir música. Bem na verdade eu descobri que não deveria ligá-los esperando ouvir música boa (Permitam-me aqui, meus bons leitores, abrir uma excessão para a rádio Universitária FM - 104,7 - de Vitória, ES. Caso contrário, acabo levando esporro da patroa...rs). Outros atores surgiram na minha vida. Mas a paixão pelos discos da minha vó me acompanha. Eu aprendi que não dá pra voltar no tempo, mas, por mais amareladas que estejam as fotografias, elas sempre terão a capacidade de despertar nossas emoções. Talvez isso até melhore com o passar das décadas. Os discos que eu olhava como se fossem fotografias. Minha vó ainda tem o bolachão do Nelson, eu é que não tenho mais vitrola. Muitos me dizem que não existe mais música nesses tempos de MP3 players e parafernália digital. Eu não posso sentir raiva do MP3. Se não fosse por ele eu teria que me acostumar com a programação limitada das rádios. Mas, de fato, a mágica de colocar um disco de vinil em um aparelho toca discos faz um pouco de falta. Ainda estou procurando este álbum do Nelson Gonçalves em formato digital. Não é a mesma coisa, mas já é alguma coisa. Qualquer informação sobre como posso encontrá-lo me deixará imensamente grato.