Recentemente acompanhei as palestras e discussões do Seminário Internacional: A Constituição do Comum, que ainda está acontecendo no Porto de Vitória até amanhã. Como o foco do evento era basicamente comunicação e cultura, com uma forte referência na internet como novo suporte comunicativo, a questão dos discos virtuais e do mp3 não poderiam ter passado em branco.
Não sou vidente, não quero desvendar o futuro e nem pensar novas estratégias para o mercado musical. Deixo essa complicada tarefa nas mãos de quem ganha dinheiro com isso. Eu, como observador profissional das transformações históricas destes tempos frenéticos, também não pude deixar de olhar para trás com certo deleite, mas sem nenhuma saudade. Deixei-me transportar para éras muito menos distantes do que nosso ritmo nos faz sentir. Quem aí do outro lado da tela se lembra da época dos velhos cassetes? Não que eu seja tão velho, mas aos 10 anos de idade eu já entendia que a minha relação com o rock era algo bem mais que casual. Naquele tempo, as coisas pareciam envelhecer mais vagarosamente. O canal que tínhamos para descobrir coisas novas eram os amigos com um gosto mais ou menos parecido. Daí vinha um CD ou outro de rock que alguém encontrava no meio das coisas dos pais e resolvia dividir com a gurizada. Geralmente um Cazuza, ou um Titãs. Não seria de se estranhar caso, em meio ao nosso grupo de garotos nascidos a partir de 1984, houvesse alguém que fora concebido ao som de uma balada do Lulu Santos executada num rádio de automóvel. Ironicamente, nós reagiamos àquilo como se tudo fosse novo.
Após pegar vários daqueles CD's emprestados com os colegas de sala, entrava em ação um ator muito importante e conhecido na minha primeira fase musical: a fita cassete. Eu até que ganhava alguns discos da minha mãe de ano em ano, no aniversário ou no natal. Mas aquilo era insuficiente para aplacar minha vontade de conhecer coisas novas que não constavam nas prateleiras de discos dos meus pais. O jeito era comprar remessas de vitinhas K7, que custavam pouco mais de dois mangos em qualquer loja de discos do interior. Pensando com a cabeça de dez anos depois, é até um pouco contraditório que as tais fitinhas fossem vendidas em lojas de CD's. Todos sabiam que o primeiro era comprado pra reproduzir o segundo. De qualquer forma, naquela época ninguém parecia esquentar a cabeça com isso.
Chegando em casa o ritual era simples. Tão simples que torna desnecessária qualquer tipo de descrição. Bem, eu era um garoto do interior. Para mim, na segunda metade da década de 1990, esse método medieval ainda era bastante comum. Com o tempo, as fitinhas iam se amontoando dentro dos nossos guarda-roupas. Houve uma época em que podia-se encontrar de tudo dentro do meu. De Robbie Zombie (sim, eu escutava essa merda!) a Legião Urbana (sem comentários, para não ofender terceiros...). Na minha escola não eram muitos os que gostavam de rock. Um grupinho bem pequeno usava camisas de bandas e roupas pretas. Esses doidões “conspiravam” contra a ordem vigente entre um biscoito e outro no intervalo do recreio. Nem as garotas davam muita atenção pra gente. Éramos estranhos. De vez em quando alguém chegava com uma parada nova apresentada por um primo mais velho da capital e o resto fazia fila para pegar emprestado e gravar. Às vezes esse primo era metaleiro, às vezes era punk, e por aí nós juntávamos um acervo claramente heterogêneo. Não havia preconceito musical, mas também não havia senso crítico. Com a chagada dos 2000, as coisas mudaram um pouco pra mim. Mudei de colégio, de amigos e de ambiente. Sem perceber também tinha descoberto que nem tudo que é rock tinha que ser legal, mérito do Robbie Zombie talvez, não sei. O fato é que a última página desse capítulo da minha formação musical foi virada quando descobri um “negocinho maneiro” chamado Hardcore. Essa é outra história.
Acho que nunca tive hábito de comprar CD. Na época acho que não tinha grana mesmo. Não que o mp3 não tenha revolucionado minha vida. Ainda na época dos K7's seria impossível ter esbarrado bandas como ActionReaction ou Modest Mouse. Alguém por aí tem um disco do ActionReaction? Ou ainda, alguém conhece alguém que tenha um disco do ActionReaction? Em Vitória pelo menos eu tenho certeza que ninguém tem. Não tenho saudades do mundo pré mp3. Para juntar todo material que tenho hoje eu precisaria de uma fortuna ou, pelo menos de 100 guarda-roupas para estocar tanta fitinha. A cópia de material sempre existiu. Ela sempre esteve alí bem diante dos olhos de todo mundo e vinha acompanhada da realidade dos custos dos discos, principalmente no Brasil. A Internet transformou o que era P.A. em P.G. e, de quebra, deu início a toda essa discussão sobre direitos autorais. Resultou realmente na crise da indústria fonográfica tradicional, porque agora fulano não tem mais que morar do lado da minha casa para eu copiar material dele. De qualquer forma não vou falar aqui sobre Cauda Longa, entre outras discussões mais teóricas. Um texto tão longo já é suficientemente chato por si só.
O Álcool & Prozac distribui música digital de forma ilegal? Sinceramente, acho que o blog é mais fiel é mais generoso do que todas as lojas de discos do mundo. Aqui nós repassamos 100% dos nossos lucros para os artistas cujas obras são disponibilizadas para download neste espaço. Façam suas contas rapazes: 100% de p**** nenhuma é...?!?!?