"Não quero ser triste, como o poeta que envelhece lendo Maiakovsky na loja de conveniência. Não quero ser alegre, como o cão que sai a passear com seu dono alegre sob o sol de domingo. Nem quero ser estanque, como quem constrói estradas e não anda. Quero, no escuro, como cego tatear estrelas distraídas."
Zeca Baleiro, Minha Casa.
Sunday, April 29, 2007
ALEX KID MUSIC
Atualização de fim de semana é coisa rara. Ainda mais se tratando do Álcool & Prozac, cujo responsável tem mais coisa pra fazer (com todo respeito) do que passar o fim semana na frente do computador. Tem que ter realmente um bom motivo.
O "bom motivo" neste caso é uma nova banda que surge na capital do Estado do Espítiro Santo. Com o excêntrico nome de Alex Kid Music, o projeto já começa a mostrar seus resultados e gerar fortes expectativas. Comprove ouvindo a primeira música dos caras disponibilizada no MySpace. O Endereço é www.myspace.com/alexkidmusic
Trata-se do primeiro single da banda entitulado "Mal-dito". É uma pré-produção da faixa que estará no disco de estréia do Alex Kid. O disco está em fase de finalização, mas enquanto o público espera seu lançamento será presenteado com mais uma pré-produção ainda sem data para disponibilização na rede.
A dica é sempre ficar de olho. O frio começou a dar as caras em Vitória nesse fim de semana, mas esse inverno promete ser aquecido por muita coisa boa recém saída do forno. Muitas bandas estão em estúdio e se tudo sair conforme o esperado junho e julho serão meses de intensa divulgação e movimentação da cena independente capixaba.
Kings of Leon. "Esquisitões", mas sem perder o peso característico do velho rock'n'roll.
Ouvir Kings of Leon sempre me leva a uma dimensão psico-musical um tanto quanto curiosa. Seus peculiares versos em uma nota só são uma verdadeira afronta a minha lógica “quadrissonante-ramoniana”. Para os que não sabem, fui criado musicalmente ao som das quatro notas sempre previsíveis que saiam da guitarra do Johnny Ramone. Durante muito tempo, música pra mim se resumia bem no polinômio ré + si menor + sól + lá = melodia. Quando o guitarrista e vocalista, Caleb Followill saca uma de suas intermináveis introduções em mi, minha mente logo me alerta: claro que logo virá um ré maior para fechar a harmonia básica da canção. Para o meu ledo engano, seguem-se inquietantes segundos de uma estática e monocromática nota só. Eu começo a pensar que realmente a música ficaria muito legal se, de repente, o rapaz resolvesse cair para um simples ré maior. Tão fácil, simples...elementar. Depois de quase um minuto sem trocar de nota, minha mente já grita alucinada “pelo amor de Deus...um ré...só um ré e eu juro que essa vai ser minha faixa preferida do disco”. Caleb me desafia. Ele sequer parece pensar em algo tão óbvio. Isso faz desse primeiro minuto de audição uma experiência um tanto quanto perturbadora, esquisita. Quando eu praticamente já tinha desistido, eis que me vem a nota salvadora. E é um RÉ MAIOR!!! Trata-se então de um momento de euforia, um momento “orgasmático”. Incrível, enfim conseguimos chegar na segunda nota. Algo parecido com alívio me toma por completo. A ponto de eu me esquecer completamente que tudo que ouvi foi um simples mi, seguido de ré maior. Qualquer aluno com três semanas de violão pode fazer isso. Mas eles acabam fazendo soar único. Não me pergunte como, ouça “Black Thumbnail” (musica 5 do novo disco da banda) e saberá do que estou falando.
Se para você “mi” é só uma sílaba e “ré” é a única marcha em que o automóvel anda pra trás, é melhor desconsiderar todo o parágrafo anterior. Simplificando: O Kings of Leon é uma banda que contraria todas as leis da física e nunca se comporta da forma esperada. Isso “obviamente torna o que é obvio incomum”. Quando mostrei a banda para minha namorada ela me disse que o som era “esquisito”. Tenho uma má notícia para ela. Em seu recém lançado álbum, “Because of the Times”, eles continuam “esquisitos”. É um bom adjetivo para uma banda que parece repudiar o comum.
Mas não é a única coisa que merece ser dita sobre o novo trabalho dos caras. O que surpreende dessa vez é o vigor. Do peso das guitarras aos riffs primais que preenchem o som. Isso serve para lembrar que, apesar de um pouco mais complicado que o de costume, o que sai das caixas de som do seu aparelho é rock. Rock feito com competência e sem frescura. Destaque para a bateria frenética de “McFearless”. O baixo é pontual e lidera grande parte dos versos do disco, dando o tom inquietante da faixa de abertura, a enxuta “Knocked Up”.
Bem verdade que nas últimas músicas o disco perde um pouco de pressão. Normal. É a hora dos irmãos Followill e banda mostrarem as várias nuances sonoras que existem entre um Mi e um Ré Maior. É a hora das baladas excêntricas “The Runner”, “Trunk” e “Arizona”, que fecham muito bem o álbum.
“Because of the Times” é um disco que vale muito a pena. Principalmente, porque nele o Kings of Leon brinca mais uma vez de reinventar o rock'n'roll, sem perder o que ele tem de melhor. Ouça a baixo algumas músicas do álbum.
Wednesday, April 25, 2007
BANDAS GÊMEAS...
Um sujeito acompanhado unicamente por seu violão folk resolve gravar um disco com algumas músicas autobiográficas. Até aí não tem nada demais. Acredito, inclusive, que muitas bandas que hoje conhecemos tenham começado exatamente dessa maneira. A partir disso, começam a aparecer algumas peculiaridades. A opção é por um projeto individual e autoral, com cerca de 10 músicas gravadas em um processo simples de voz e violão. Sonoridade pop e açucarada, com linhas melódicas de fazer partir o coração dos mais insensíveis. Apesar de ser um projeto de “um homem só”, a “banda” não leva o nome de seu compositor. Adivinhou, né? Claro que só pode ser o Dashboard Confessional. A banda surgida no ano de 2000, como um projeto paralelo de Chris Carrabba, na época a frente da banda norte-americana Further Seems Forever. Mas é melhor não ter tanta certeza assim.
Não tão distante do surgimento do Dashboard Confessional, mais precisamente no estado da Califórnia, aparece um outro projeto que promete confundir muito a cabeça dos fãs do “grupo” de Boca Ratón, Florida. Usando o nome de Secondhand Serenade, John Vesely lança, em 2005, um disco que segue a risca as características de seu predecessor.
São diversas as similaridades que aproximam Swiss Army Romance (2000) e Awake (2005), discos de estréia dos de Chris e John, respectivamente. Começando pelo visual de seus vocalistas (Topete espetado e incontáveis tatoos no braço) até o timbre da voz, que assusta de tão parecido. Não fosse pelas significativas mudanças do Dashboard nos últimos dois discos, ficaria realmente impossível distinguir um do outro.
John Vasely, apesar de vir de família de músicos e de uma longa história como baixista de bandas de rock, não tinha muita familiaridade com o violão. O primeiro encontro entre ele e o instrumento foi a pedido de sua esposa que queria que o moço a fizesse uma serenata. Funcionou tão bem que John afirma ter encontrado sua vocação e o disco de estréia “Awake” pode não soar nada original, mas tem qualidade. O projeto, lançado por um selo independente, já bate recordes de download na loja virtual do ITunes e sua página é uma das mais visitadas do MySpace. O mais engraçado é que o Dashboard não figura sequer entre as influências admitidas do Secondhand Serenade.
O som é totalmente “chupado” e nada original, mas dá pra matar as saudades do enxuto, cru e genial Swiss Army Romance. Em minha opinião, o disco mais bacana do DC. Ouça as duas bandas e confira sua similaridade praticamente surrealista.
Thursday, April 12, 2007
E o Clube Cetenário vai ficar pequeno...
Tratando-se do show do Udora, no dia 20 de abril, a frase só pode ser dita em tom de lamento.
Udora. Show no Chevrolet Hall, em 17 de março. Foto por Henrique Galtieri
Eu gostaria, sinceramente, de dedicar um post inteiro ao elogio da excelente iniciativa de trazer a banda mineira Udora para tocar em Vitória. Demorou. Não por falta de interesse do público capixaba e nem por má vontade da banda, todas as tentativas anteriores foram frustradas. Finalmente, temos um show dos caras agendado e confirmado para o próximo dia 20 de abril. É uma pena que nem tudo seja como o esperado, principalmente no que diz respeito à organização do espetáculo.
A começar pelo local escolhido. O Clube Centenário não apresenta a mínima estrutura para receber uma banda com a bagagem e o histórico do Udora. Arrisco-me a dizer que o local não tem estrutura para receber banda nenhuma. Além de uma péssima acústica para apresentações ao vivo, o clube não tem capacidade física para receber mais de duzentas pessoas com o mínimo de conforto necessário (Num lugar como o Centenário, se entende como "mínimo conforto" a remota possibilidade de ser encoxado ao menos por uma pessoa de cada vez).
Deixo claro que esta não é simplesmente uma crítica à produtora responsável pelo evento. Esta é mais uma crítica ferrenha a falta de estrutura de nosso Estado, que acarreta na ausência total de opções para a realização de eventos alternativos. Esta é também uma crítica ao mercado cultural e aos patrocinadores de nossa cidade que são incapazes de abrir os olhos para uma contundente realidade: os sinais de vida cultural em Vitória não podem aparecer esporadicamente, de micareta em micareta.
Talvez por essa razão um show tão importante contou com divulgação tão precária. Ou melhor, quase nenhuma divulgação. Não há nenhum tipo de informação sobre os pontos de venda de ingressos, para não dizer a ausência total de promoção do espetáculo. Não adianta também manter-se na superficialidade das críticas comuns aos responsáveis pelo evento. Seria muito fácil “tacar pedra” nessa galera, sem reconhecer que são tão poucos os que ainda tentam fazer algo pela cultura musical dessa cidade. Imagino as grandes dificuldades desse processo.
A BANDA
Além do Rock in Rio III, o Udora (ex-Diesel) tem uma passagem significativa pelo mercado norte-americano. A banda fez mais de 150 shows por todo o país, incluindo uma turnê com o ex-guitarrista do Alice in Chains, Jerry Cantrell. Trabalhou com produtores de amplo reconhecimento, como Matt Wallace (Maroon 5, Faith no More, Train), Gavin Mackillop (Toad the Wet Sprocket, Goo Goo Dolls), Bob Marlette( Black Sabbath , Seether, Ill Nino) e Thom Russo (System of a Down, Johnny Cash, Audioslave). “Liberty Square”, disco lançado durante esse processo de 5 anos nos Estados Unidos, conta com uma ótima produção e canções de qualidade.
Desde de janeiro, a banda está de volta ao Brasil, fazendo muitos shows (principalmente no eixo Minas-São Paulo). O grupo sofreu mudanças significativas em sua formação e conseqüentemente em sua sonoridade. Atualmente, prepara seu próximo disco, com faixas em português, “Goodbye Alô” e participa de turnês com bandas de verve mais popular, como seus conterrâneos do Skank.
Espero estar engando. Espero que, a despeito de todos esses problemas, a vinda dos mineiros seja um sucesso e abra as portas para muitas outras passagens do Udora por aqui. Que esta seja apenas o começo, ainda que não da forma esperada por todos os fãs do grupo. Só resta desejar mais "sorte" na próxima. Caso haja uma próxima vez.
Tuesday, April 03, 2007
NOVIDADES
Algum de vocês já se sentiu com aquela sensação de ter assumido mais responsabilidades do que poderia. Aquele desejo estranho de que o dia tivesse algo em torno de 36 horas, ou mesmo, pior que isso, a certeza de que se assim fosse ainda faltaria tempo para uma porção de coisas. Isso não é uma justificativa para a minha demora em atualizar o conteúdo do Álcool & Prozac. Acredito que as pessoas que acompanham o blog já devam estar bem acostumadas com o meu cronograma irregular. Eufemismos à parte, a verdade é que, se eu não tivesse mais nada para fazer, ainda assim não publicaria com mais regularidade do que o de costume.
O fato é que, mesmo entre suas atualizações, o Álcool y Prozac não pára. Estive pensando em uma nova utilidade do blog e acredito que isso vai agradar as pessoas que buscam o A&P para conhecer novas bandas e discos. Nada que venha escrito nessas linhas pode substituir a apreciação do som das bandas aqui mencionadas, e é por isso que começo a partir de hoje a disponibilizar links para downloads de discos citados nos textos. Os links ficarão na coluna esquerda da página junto com as capas dos discos. Espero que vocês gostem da idéia. Serão links do rapidshare e megaupload em que o usuário poderá baixar gratuitamente o trabalho dos artistas recomendados.
Mp3 e a música livre
O Mp3 (MPEG audio layer – 3) é um formato compacto de música para execução digital. A invenção deste formato é creditada ao Institut Integrierte Schaltungen (IIS), da Alemanha, juntamente com a Universidade de Erlangen e remota ao ano de 1987. A revolução consiste na forma com que o arquivo de música neste formato fica mais leve, mais fácil de ser compartilhado e armazenado. Esse resultado é obtido porque a conversão de WAV para Mp3 resulta na eliminação de todos os sinais sonoros inaudíveis aos humanos. Clique aqui e saiba mais sobre a história do Mp3
Não precisa nem dizer que o surgimento desta tecnologia causou/causa grande dor de cabeça aos chefões da industria fonográfica. Quem não se lembra da grande confusão enolvendo o Napster, há alguns anos atrás? O Napster foi o primeiro software de troca de música digital da web. Com o seu inevitável sucesso, vieram dezenas de processos, capitaneados inclusive pelo baterista do Metallica, Senhor Lars Ulrich. O software perdeu e acabou tendo que tirar do seu catálogo todas as canções protegidas por direitos autorais, ou seja, quase todas. Mas a vitória não resultou em muita coisa além da queda da popularidade do Metallica entre os fãs de todo o mundo, muito tempo e dinheiro perdido por parte das gravadoras e distribuidoras. Com a queda do Napster, surgiram outras centenas de programas de compartilhamento de arquivos. A ampliação contínua das possibilidades tecnológicas na internet também criou outras alternativas para quem curte música digital.
Apesar de polêmico, o Mp3 é uma realidade inquestionável. Mesmo muitos artistas têm utilizado o formato para divulgar seus trabalhos, principalmente no meio independente.
Pessoalmente acredito muito no potencial do Mp3 de revolucionar a música. Os principais interessados na venda de discos acusam a troca de arquivos desse tipo de pirataria. É até engraçado diante dos preços cobrados pelos discos. Em países como o Brasil, a maior parte da população não pode pagar por um disco nas lojas. Mas isso é discussão batida. Há algum tempo atrás, um artista só poderia viver dignamente se fosse “adotado” pelas grandes empresas do indústria fonográfica. Esse processo não raramente vinha acompanhado de inúmeras concessões artísticas em nome do potencial comercial das obras. Hoje o Mp3 se tornou uma forma eficaz de distribuição e promoção musical. Novas bandas surgem a todo instante na rede e conseguem certo prestígio no meio underground. Como no caso do Dead Fish, são as gravadoras que correm atrás dos músicos. A música ganha com isso. Um exemplo são os dois discos excelentes lançados pela Deckdisc. Ser independente hoje é uma opção, graças às facilidades da tecnologia digital.
Ainda não é uma maravilha, mas os ganhos do todo compensam as perdas de alguns. O que está em jogo não é o destino do disco. A magia de um trabalho completo, com encarte, produção gráfica, não morre. Recomendo a quem possa e queira que não deixe de comprar discos e prestigiar artistas que respeitem e admirem. A título de conhecimento e divulgação, os álbuns virtuais estão a disposição. Espero que vocês gostem e abro espaço para pedidos e sugestões. Valeu!
Pela primeira vez, a sessão "A&P" não recomenda um disco e sim um livro. Trata-se da biografia do rei da Jovem Guarda Roberto Carlos. Escrita pelo jornalista Paulo César de Araújo e proibida pelo próprio cantor, a obra se espalhou como um vírus pela internet. O livro narra com detalhes os acontecimentos mais polêmicos da vida do Rei. Ainda não terminei de ler, mas por seu valor histórico a biografia já é altamente recomendável. Essa é a versão oficial que vazou dias após o processo que fechou as portas das livrarias para a obra. Azar do Rei, sorte nossa!