Thursday, July 19, 2007

"DESTRUIR TUDO OUTRA VEZ..."

Caros amigos...amigos!!!...hey, tem alguém aí?? Bem, que seja. Este texto se dirige basicamente a qualquer interessado nas coisas que eu tenho escrito aqui ao longo desses quase dois últimos anos. Quem acompanha o Álcool & Prozac já deve estar acostumado com as minhas postagens irregulares, conduzidas ao sabor da minha motivação e interesse, particularmente inconstantes ao longo da história deste blog. Dessa vez, não venho me desculpar pelo aparente “descaso” ou anunciar mudanças drásticas, como as que tem sucedido as longas pausas na trajetória do A&P. Dessa vez eu venho anunciar mesmo o fim do blog.


O rock acabou. Essa grande bagunça, iniciada precisamente no dia 20 de outubro de 2005, chegou ao fim. Já deu. Gastou.


Para além de todas as brincadeiras, o blog foi muito importante para a minha formação. Principalmente, porque esse espaço não começou especificamente destinado ao jornalismo musical, mas ele foi uma bússola extremamente importante para a definição do norte a seguir, a partir daqui. Desde aquela primeira postagem, não por acaso a respeito do show do Pearl Jam no Brasil, o blog serviu para o aprimoramento do meu texto e para a experimentação de novas possibilidades. Pearl Jam é uma das minhas bandas prediletas e sem dúvida foi uma forma de começar o projeto com o pé direito. Até certo ponto, acho que ele foi capaz de cumprir grande parte do que se propunha. Talvez seja essa mesma a explicação para o seu esgotamento. O Álcool & Prozac sempre foi para mim como um pedacinho de terra perdido na América Central Insular, uma pequena ditadura com baixíssimo índice demográfico e que tem na minha figura o seu chefe de Estado total. Mandei e desmandei nesse espaço. Pensei pautas, mudanças, escrevi e editei com um afínco praticamente autista. Acho que a natureza dos blogs, por serem tão pessoais, é exatamente essa. Um pouco mais emocional, mais individualista. Acho que o sucesso de um projeto desse tipo consiste justamente em transformar o que é personalizado em um espaço coletivo. O mais bacana é quando esse produzir individual gera uma identificação e culmina na participação dos leitores. Esses, quase que naturalmente, passam a fazer parte do site quase tanto quanto quem posta. Nesse ponto, acredito que o A&P tenha fracassado.


Nunca fui do tipo que esperei grande publicidade para as coisas que faço. Não sei quantas pessoas ao certo acompanham as coisas que escrevo, nem sei o que elas pensam (se é que pensam) sobre todo conteúdo aqui disponibilizado. Nunca coloquei um contador de pageviews aqui, também não acho que esse tipo de controle demonstre muita coisa, ao menos não para mim. O fato é que esse fazer solitário e sem resposta acabou por me cansar, desmotivar. Em miúdos: Não quero mais. Estou dando o fora.


Os caminhos a seguir a partir deste término também não estão assim tão claros. Quero pensar projetos mais específicos com o jornalismo musical. Organizar melhor desta vez e me engajar novamente em outro projeto que me traga novamente a motivação de tempos passados. Tenho algumas coisas em mente e logo manterei os interessados informados por orkut, ou mesmo utilizando esta plataforma. O prazer de escrever coisas mais pessoais também me acompanha. Provavelmente manterei um outro blog, conservando este ideal mais anárquico e descomprometido. Quase como um diário, onde deixarei minha criatividade livre para trabalhar sem amarras, sem observar efeitos ou resultados. Bem, por hora é isso. Agradeço mais uma vez aos amigos que deram força e acompanharam as publicações do Álcool & Prozac. A vocês meu total carinho, respeito e gratidão por terem gastado um pouco do seu tempo para pensar nas coisas que escrevo e para ler textos, na maioria das vezes tão grandes e enfadonhos como este. Obrigado. Até a próxima!


Tuesday, June 19, 2007

O homem por trás da TRAMA



Após um período bastante atarefado e uma pequena pausa nas atualizações do blog, dirijo-me novamente aos leitores para apresentar uma entrevista com o editor do site Trama Virtual, Dago Donato. A entrevista foi feita com exclusividade, no dia 22 de maio. Aproveitei a passagem do Dago pelo Estado, em virtude do Seminário Internacional a Constituição do Comum, no qual ele foi um dos palestrantes. O rapaz foi atingido por um forte resfriado no dia de sua apresentação, mas ainda assim aceitou levar um bate-papo comigo. Foram cerca de 10 minutos de conversa somente interrompidos mediante ao alerta do organizador do evento e prof. do Curso de Comunicação da Ufes, Fábio Malini: a palestra já estava para começar.


Tentei transcrever com a maior fidelidade possível essa conversa. O resultado você poderá conferir abaixo. Antes disso, gostaria de registrar os mais sinceros agradecimentos ao Prof. Fábio Malini, pela intermediação, e ao Dago, pela atenção dispensada. Valeu!



A&P - Como você avalia os impactos das novas tecnologias de produção e difusão na música em geral? De fato a música ficou mais “independente” após o desenvolvimento das novas possibilidades criadas com a internet?


DAGO - O impacto é brutal. Mudou tudo. A internet derrubou um modelo que já existia e criou um novo. Então, agente tá vivendo uma época muito interessante nesse sentido, de buscar novas fórmulas para o mercado de música.Ao mesmo tempo, isso possibilitou às pessoas pararem de escutar o que mandam, o que é ditado pelos veículos. Eu acho que isso é só o começo. Agente pode ficar aqui um fim de semana inteiro e até um ano conversando e ainda assim não conseguir respostas.


A&P - E essas novas tecnologias acabam possibilitando também um aumento na qualidade das gravações, inclusive aquelas feitas em casa, nos chamados “home studios”...


DAGO - Exato. Hoje em dia, o cara grava no quarto dele, ele lança a música do quarto dele e as pessoas dos outros quartos do mundo ouvem isso, saca? E isso é bem interessante.


A&P - E diante disso as gravadoras estão tendo que repensar o seu antigo modelo...


DAGO - É, eu costumo falar que eu não tenho uma esposta pra isso porque se eu tivesse eu tava rico, né (risos). O que eu vejo são algumas gravadoras buscando novos caminhos. Outras se apegam ao antigo modelo até não poder mais. Mas esse novo caminho ele não existe. Se eu disser que ele existe, eu estou mentindo. Você vai por onde acha que a maré vai seguir, mas ainda não existem certezas.


A&P - Então não existe uma fórmula para se fazer dinheiro com música na internet, um ambiente em que o download grátis acaba favorecendo o hábito de não se pagar por música?


DAGO - No Brasil isso é muito difícil cara. Não existe uma cultura de pagar por download aqui no país e eu acho difícil que isso mude. Talvez pela característica do brasileiro mesmo de buscar uma certa vatagem. Por que eu vou pagar por um negócio que eu consigo de graça? Tem também outros motivos. O mercado, por exemplo, está adotando uma coisa mais descartável. É o hit da Britney, ou da Ivete Sangalo. Aquilo toca por dez meses e depois acabou. Só uma música. Nunca trataram o álbum como obra. Agora, ganhar dinheiro é como eu falei, não faço idéia. Vamos descobrir. Se você tiver uma idéia me fala (risos).


A&P - Como você vislumbra o futuro do disco inteiro e mais conceitual nesse mercado de hits?


DAGO - O que eu tenho visto lá fora é que enquanto os discos de artistas pop tem quedas brutais de vendas artistas com mais conceito vendem bem. Então você pega uma banda como o Shins que eu não esperava que estourasse de uma maneira tão vibrante. Eles estreiaram em segundo lugar na parada da Billboard, venderam tantos mil discos. O Modest Mouse estreiou em primeiro lugar. Lá fora ainda existe esse negócio do disco, da obra. Aqui no Brasil também não é difícil. Eu acho que o disco vale pro artista. Vale como um cartão de visita. O disco é a obra total do artista. Mas ganhar dinheiro com isso é que é muito difícil. Você tem que colocar tudo na ponta do lápis para ver se o trabalho dá retorno e no fim acaba não valenado a pena (sob o ponto de vista comercial).



A&P - Como foi trabalhar com um cara como o Carlos Eduardo Miranda, produtor de conceito e personagem significativo da hitória recente da música brasileira?


DAGO - Foi o Miranda quem me chamou para trabalhar na Trama Virtual. Ele é uma figura fantástica, um cara cheio de idéias, com a cabeça muito aberta. Ele tem mais de 40 anos e ainda está muito aberto para o mundo, coisa rara no meio musical. Ao mesmo tempo ele é uma usina, né cara? É até mais difícil trabalhar com ele, porque eu queria organizar e ele desorganizar, tá ligado? (risos) Pode até não ser tão organizado assim, mas o cara é foda. O Miranda está sempre de bem com a vida. Na verdade, eu não tenho nem palavras pra descrevê-lo.


A&P - O Cansei de Ser Sexy foi o exemplo de uma banda que teve uma boa aceitação no site da Trama Virtual e acabou migrando, sendo lançada pelo selo da Trama. Vocês têm mais alguns projetos nesse sentido de lançar bandas com boa visibilidade na web? Você poderia adiantar alguma coisa?


DAGO - Agente lançou, além do Cansei, o Rock Rocket, uma banda de São Paulo, e o Zefirina Bomba, da Paraíba. Essas bandas não alcançaram o que foi conquistado com o Cansei de Ser Sexy, mas têm trabalhos bem interessantes. A idéia da trama agora é dar uma freiada no lançamento do CD físico. Nós vamos continuar lançando, mas a idéia é terceirizar. Não vale mais a pena para a Trama assumir essa operação. Os presidentes acreditam em outras paradas hoje em dia. A idéia é ir para um outro lado, investir na Trama Virtual, que aparecerá logo com um monte de novidades. Vamos criar comunidades. Eu não sei nem se posso falar, mas existe a idéia de dividir receita com as bandas que é uma coisa que ninguém fez até hoje no Brasil. Parte das verbas dos patrocinadores poderão ser destinadas às bandas que tiverem suas músicas baixadas. Porque nossa intenção não é só a de capitalizar e trazer dinheiro para a empresa mas existe o interesse de servir de vitrine para música independente. Agente faz um programa de TV e não ganha um tostão com isso. Estamos colocando no ar bandas que não tem espaço na TV em geral. Nossa intenção é continuar seguindo por esse caminho.

Thursday, May 24, 2007

SEM SAUDADE DO TEMPO DOS CASSETES...


Recentemente acompanhei as palestras e discussões do Seminário Internacional: A Constituição do Comum, que ainda está acontecendo no Porto de Vitória até amanhã. Como o foco do evento era basicamente comunicação e cultura, com uma forte referência na internet como novo suporte comunicativo, a questão dos discos virtuais e do mp3 não poderiam ter passado em branco.


Não sou vidente, não quero desvendar o futuro e nem pensar novas estratégias para o mercado musical. Deixo essa complicada tarefa nas mãos de quem ganha dinheiro com isso. Eu, como observador profissional das transformações históricas destes tempos frenéticos, também não pude deixar de olhar para trás com certo deleite, mas sem nenhuma saudade. Deixei-me transportar para éras muito menos distantes do que nosso ritmo nos faz sentir. Quem aí do outro lado da tela se lembra da época dos velhos cassetes? Não que eu seja tão velho, mas aos 10 anos de idade eu já entendia que a minha relação com o rock era algo bem mais que casual. Naquele tempo, as coisas pareciam envelhecer mais vagarosamente. O canal que tínhamos para descobrir coisas novas eram os amigos com um gosto mais ou menos parecido. Daí vinha um CD ou outro de rock que alguém encontrava no meio das coisas dos pais e resolvia dividir com a gurizada. Geralmente um Cazuza, ou um Titãs. Não seria de se estranhar caso, em meio ao nosso grupo de garotos nascidos a partir de 1984, houvesse alguém que fora concebido ao som de uma balada do Lulu Santos executada num rádio de automóvel. Ironicamente, nós reagiamos àquilo como se tudo fosse novo.


Após pegar vários daqueles CD's emprestados com os colegas de sala, entrava em ação um ator muito importante e conhecido na minha primeira fase musical: a fita cassete. Eu até que ganhava alguns discos da minha mãe de ano em ano, no aniversário ou no natal. Mas aquilo era insuficiente para aplacar minha vontade de conhecer coisas novas que não constavam nas prateleiras de discos dos meus pais. O jeito era comprar remessas de vitinhas K7, que custavam pouco mais de dois mangos em qualquer loja de discos do interior. Pensando com a cabeça de dez anos depois, é até um pouco contraditório que as tais fitinhas fossem vendidas em lojas de CD's. Todos sabiam que o primeiro era comprado pra reproduzir o segundo. De qualquer forma, naquela época ninguém parecia esquentar a cabeça com isso.


Chegando em casa o ritual era simples. Tão simples que torna desnecessária qualquer tipo de descrição. Bem, eu era um garoto do interior. Para mim, na segunda metade da década de 1990, esse método medieval ainda era bastante comum. Com o tempo, as fitinhas iam se amontoando dentro dos nossos guarda-roupas. Houve uma época em que podia-se encontrar de tudo dentro do meu. De Robbie Zombie (sim, eu escutava essa merda!) a Legião Urbana (sem comentários, para não ofender terceiros...). Na minha escola não eram muitos os que gostavam de rock. Um grupinho bem pequeno usava camisas de bandas e roupas pretas. Esses doidões “conspiravam” contra a ordem vigente entre um biscoito e outro no intervalo do recreio. Nem as garotas davam muita atenção pra gente. Éramos estranhos. De vez em quando alguém chegava com uma parada nova apresentada por um primo mais velho da capital e o resto fazia fila para pegar emprestado e gravar. Às vezes esse primo era metaleiro, às vezes era punk, e por aí nós juntávamos um acervo claramente heterogêneo. Não havia preconceito musical, mas também não havia senso crítico. Com a chagada dos 2000, as coisas mudaram um pouco pra mim. Mudei de colégio, de amigos e de ambiente. Sem perceber também tinha descoberto que nem tudo que é rock tinha que ser legal, mérito do Robbie Zombie talvez, não sei. O fato é que a última página desse capítulo da minha formação musical foi virada quando descobri um “negocinho maneiro” chamado Hardcore. Essa é outra história.


Acho que nunca tive hábito de comprar CD. Na época acho que não tinha grana mesmo. Não que o mp3 não tenha revolucionado minha vida. Ainda na época dos K7's seria impossível ter esbarrado bandas como ActionReaction ou Modest Mouse. Alguém por aí tem um disco do ActionReaction? Ou ainda, alguém conhece alguém que tenha um disco do ActionReaction? Em Vitória pelo menos eu tenho certeza que ninguém tem. Não tenho saudades do mundo pré mp3. Para juntar todo material que tenho hoje eu precisaria de uma fortuna ou, pelo menos de 100 guarda-roupas para estocar tanta fitinha. A cópia de material sempre existiu. Ela sempre esteve alí bem diante dos olhos de todo mundo e vinha acompanhada da realidade dos custos dos discos, principalmente no Brasil. A Internet transformou o que era P.A. em P.G. e, de quebra, deu início a toda essa discussão sobre direitos autorais. Resultou realmente na crise da indústria fonográfica tradicional, porque agora fulano não tem mais que morar do lado da minha casa para eu copiar material dele. De qualquer forma não vou falar aqui sobre Cauda Longa, entre outras discussões mais teóricas. Um texto tão longo já é suficientemente chato por si só.


O Álcool & Prozac distribui música digital de forma ilegal? Sinceramente, acho que o blog é mais fiel é mais generoso do que todas as lojas de discos do mundo. Aqui nós repassamos 100% dos nossos lucros para os artistas cujas obras são disponibilizadas para download neste espaço. Façam suas contas rapazes: 100% de p**** nenhuma é...?!?!?

Wednesday, May 23, 2007

Festival Universitário de Música Experimental Independente


Nos tempos em que o Festival de Alegre é cada vez menos festival e os locais para shows na cidade de Vitória se tornam cada vez mais raros e despreparados, uma boa idéia acaba se tornando alternativa para preencher a lacuna existente entre o público e artistas e compositores locais.


O nome é excêntrico e já chama atenção por si só. O Festival Universitário de Música Experimental Independente (FUMEI), que acontece a partir de amanhã na Universidade Federal do Espírito Santo e vai até domingo, tem tudo para entrar de vez para a agenda cultural da cidade. O evento é organizado pelo Diretório Central de Estudantes da Universidade (DCE-Ufes).


O Festival será uma grande oportunidade para que o público de Vitória entre em contato com a música feita em seu território. Além de premiar com a gravação e edição de um DVD a banda mais bem avaliada pelo júri especializado, o evento servirá para divulgar a música independente do Estado, carente de canais sérios de diálogo com o grande público local.


Até o dia 18 de maio, o número de grupos inscritos chegava a um total de 46 bandas. Elas se apresentarão em três fases eliminatórias. A cada dia serão selecionados três finalistas, restando nove grupos para a final de domingo. O júri especializado encarregado de selecionar a melhor banda do FUMEI será composto por professores dos cursos de música da Ufes e da Fames, juntamente com outros dois profissionais do ramo musical. Além disso, irá a júri popular a escolha da melhor música do festival, que será premiada simbolicamente. Outras bandas e artistas capixabas se apresentarão durante todos quatro dias do evento. Confira programação abaixo.


Além das eliminatórias e demais apresentações, o público que comparecer ao campus da Ufes de Goibeiras nesta quinta e sexta-feira poderá assistir a duas palestras. A primeira palestra será com o pesquisador, produtor musical e artista gráfico Fábio Henriques Giorgio, autor do livro Na Boca do Bode – Entidades Musicais em Trânsito. Na sexta-feira, é a vez de Régius Brandão, profissional de teatro há 30 anos, falar um pouco sobre a relação do teatro, da arte e da música com o público.


Para quem ainda não se inscreveu em alguma das oficinas de forró, estêncil, malabares, pirofagia ou dança do ventre, que acontecerão no sábado, a partir das duas horas, é bom se apressar. As inscrições rolam até hoje na sede do DCE, no Campus de Goiabeiras.

PROGRAMAÇÃO


dia 24
mesa de abertura - 14 horas
palestra com Fábio Giorgio de SP às 15h30
no auditório do CCJE
noite - 1° eliminatória
dia 25
palestra sobre relação do teatro, música, cultura e arte com o público - 15horas
noite - The boys Boys
2° eliminatória
Baia (do DVD baú do raul) junto com Símios
dia 26
a partir das 14 h - oficinas
noite - apresentação de espetáculos de dança e teatro
3° eliminatória
Trio Lubião
dia 27
noite -Tributo a chico buarque - grupo de música da ufes
final
Solana


Monday, May 21, 2007

REVISITANDO A OBRA DO PEQUENO PRÍNCIPE


Entre os anos de 1966 e 1970, o Pequeno Príncipe abandona o reino da Jovem Guarda e embarca nos cometas da psicodelia.


Provavelmente, as pessoas da minha geração (nascidos ao longo da década de oitenta) tenham relacionado em sua cabeça o nome de Ronnie Von com os delírios insandecidos e suspiros apaixonados de nossas tias-avós. De fato, Ronnie ostenta e, de certa forma, tem sua imagem impregnada pelo título de galã-mor da Jovem Guarda. Ao lado de Roberto Carlos e companhia, o cantor fez história em meio aos refrões fáceis estilo iê-iê-iê e regravações “aportuguesadas” dos Beatles.


Há quem associe o nome Ronnie Von com as canções de forte apelo romântico-popular – “brega” mesmo, para os menos chegados a eufemismos. O próprio cantor, em recente declaração à revista Carta Capital, se revelou não muito criterioso na escolha de seu repertório, que na maior parte das vezes era definido realmente pelo setor de marketing de sua gravadora.


O que ainda é pouco conhecido do grande público é uma outra nuance do artista, justamente a considerada mais significativa pela mídia especializada. Na fase compreendida entre os anos de 1966 e 1972, Ronnie Von se dedicaria a alguns projetos com um conteúdo bem diferente daqueles que marcaram sua carreira durante a Jovem Guarda. Na segunda metade da década de 1960, mesmo os Beatles já haviam embarcado em outra viagem (!). O quarteto inglês adotou um som bem mais psicodélico, carregado de experimentalismos. Nessa época surgiram grandes refêrencias para o estilo, verdadeiras pérolas como o Álbum Branco, lançado em 1968. Ronnie Von também chegou a transitar por essas áreas mais progressivas. É o que mostra a trilogia relançada recentemente pela Universal, que conta com dois discos homônimos (lançados em 1966 e 1968) e o disco A Máquina Voadora, de 1970. O primeiro com muitas regravações dos Beatles; o segundo com os dois pés afundados na psicodelia; e o terceiro já retomando o galã romantico da Jovem Guarda, mas ainda com muitos traços da ousadia e experimentalismo dos dois trabalhos anteriores.


Ronnie Von – um rapaz bem nascido, amante de jazz e apreciador de bons vinhos – deu prosseguimento a sua carreira popular, de forte apelo comercial, mas ele mesmo não poderia imaginar que sua fase mais inquieta seria revisitada por uma grande gravadora, 40 anos depois. Esses três discos tiveram uma grande procura por parte de “jovens roqueiros” que passaram a cultivar um grande interesse pela fase mais “underground” do cantor.


O Tributo


Ronnie Von chegou a tocar com Rita Lee e os Mutantes na década de 1960, em seu programa na TV Record. Ao que parece, ele continua inspirando novas gerações de bandas de rock. Prova disso é o mais novo Tributo ao Ronnie Von, dirigido de forma independente pela jornalista Flávia Durante. O projeto consiste em em um disco virtual de dois volumes com músicas da fase psicodélica de Ronnie interpretadas por novas bandas de rock. “Há participações de bandas de todo Brasil, do Pará ao Rio Grande do Sul, o que prova que a obra de Ronnie Von atrai o interesse de vários fãs de boa música. E todos interessados em colocar o nome do artista em seu devido lugar na história do rock brasileiro”, esclarece Flávia, em um texto do site oficial do projeto.


Todas as músicas podem ser baixadas gratuitamente pelo site “Tudo de Novo – Tributo a Ronnie Von”. Confira lá as faixas e outros detalhes sobre a coletânea. Acompanhe também o blog dedicado ao projeto. Lá você terá acesso a um extenso arquivos de clipping a respeito do cantor, detalhes sobre as bandas participantes e algumas entrevistas em vídeo com o próprio Ronnie.

A Trilogia Psicodélica

Confira abaixo os links para download das três obras lançadas por Ronnie Von nos anos de 1966, 1968 e 1970. Estes foram os discos relançados recentemente pela Universal. Os três discos são produzidos por Arnaldo Saccomani. Isso mesmo! Aquele tiozinho razinza que também é jurado do Ídolos.

Ronnie Von (1966)

Das 12 faixas deste álbum, sete tem seus originais assinados pela dupla Lennon e McCartney. Este é o primeiro dos discos da fase psicodélica de Ronnie e deixa clara a influência exercida pelos Beatles nos próximos discos do cantor. O hit "carro-chefe" do disco homônimo de 66 foi "Meu Bem", uma versão de "Girl" dos Beatles. Nele você também encontra uma versão de "As Tears Goes By" dos Rolling Stones, com o título de "Meu Pranto a Deslizar".


Ronnie Von (1968)

Tido como o auge desta fase experimental de Ronnie Von, é no disco de 68 que o cantor entra de cabeça na psicodelia. O disco propõe uma ruptura e um tédio declarado em relação às diretrizes da música comercial brasileira da época. Destaque para as excelentes "Espelhos Quebrados" e "Sílvia, 20 Horas, Domingo".


A Máquina Voadora (1970)

Este é o disco que marca a volta do cantor romântico e comportado da Jovem Guarda. Nele o experimentalismo dos discos anteriores não desaparece, mas se encontra misturado a um conteúdo mais convencional e condizente com a carreira adotada nos anos seguintes.


É importante ressaltar que, embora seus originais sejam vendidos hoje por "pequenas fortunas" por colecionadores aficcionados, na época os três discos provocaram o descontentamento da gravadora que os julgava nada atraentes sob o ponto de vista comercial.




Thursday, May 10, 2007

Na trilha do independente...

A banda capixaba Antemic dá prosseguimento aos preparativos de seu próximo trabalho, esperado para o segundo semestre deste ano.


Antemic, ainda com o baixista Arthur Navarro (último da direita). Foto "roubada" do fotolog da banda.



Com mais de três anos de história e muita poeira da estrada na bagagem, o Antemic passa atualmente por uma fase de importantes decisões a respeito de sua trajetória. Do lançamento do primeiro EP homônimo até aqui, a banda passou por diversas mudanças em sua formação original. A última, no início deste ano, resultou na saída de um de seus fundadores, o baixista Arthur Navarro. Para o seu lugar foi escalado Léo que, entre outros projetos, faz parte das bandas Volume 7 e Take Me. O Antemic passou ainda por uma série de shows com músicos convidados e agora, tendo finalmente sua nova formação 100% reunida, começa a rever antigos projetos e caminhos a seguir. Entre eles, está o lançamento do próximo trabalho. Com algumas músicas já preparadas, a banda planeja voltar ao estúdio para mais algumas gravações que possivelmente resultarão no seu primeiro disco inteiro. Já não era sem tempo! Inicialmente, o disco deverá sair pelo selo independente paulista Highlight Sounds.


O Antemic já rodou por todos os estados da região sudeste, conquistando reconhecimento por onde passa. Apesar da vista grossa da mídia generalista capixaba em relação ao que acontece em seu próprio quintal, o repertório apresentado nos shows e o material gravado até agora têm potencial para firmar a banda como um dos nomes mais fortes da música independente feita no Espírito Santo e, quem sabe, conquistar o restante do país. Duvida? Então confira algumas músicas que farão parte do disco na playlist do A&P.


Fugindo de rótulos


Definições são sempre um caminho sinuoso para qualquer jornalista. Quase sempre o que se consegue é contrariar todos os fãs e também os artistas. Tratando-se do cenário musical contemporâneo, acredito que as dificuldades sejam ainda maiores. As novas tecnologias possibilitam a diversidade sonora e o intercâmbio entre diferentes artistas de diferentes localidades. A facilidade de acesso torna a música policromática e os rótulos perdem a validade na velocidade de um click. O Antemic é mais uma das bandas que dispensa rótulos. Apesar de ter os dois pés fincados no punk rock/hardcore melódico do fim dos anos noventa, os quarteto de Vitória se vale de influências como Hot Water Music, Foo Fighters e The Used para transpor os limites dos power chords e riffs oitavados característicos do hardcore californiano.


De qualquer forma, a banda rejeita o caminho fácil, aberto por grupos como NX Zero, Fresno e CPM22 na grande mídia especializada do país. Apesar de apresentar uma gênese sonora que passa por influências básicas comuns, o caminho escolhido os distancia completamentamente do gênero definido como “emo” pela grande mídia. “O Fábio Júnior já fez sucesso, então alguém resolveu pegar o som do Fábio Júnior e colocar um pouco de distorção no fundo. Essa proposta definitavemente não nos interessa”, alfineta o guitarrista Zé Neto, em entrevista ao Álcool & Prozac.


Não espere choramingos, cigarro metolado ou crises existenciais pré-adolescentes. A intensidade neste caso é fruto de rock'n'roll sincero, sem pieguices e lugares-comuns. Como liberdade e personalidade não combinam necessariamente com sucessos de vendas para o mercado nacional, o caminho até o “mainstreem” não é dos mais fáceis para quem não se adequa facilmente aos padrões.


O difícil caminho da música independente (sobretudo no Espírito Santo)


Dificuldade não é novidade para as bandas que procuram algum tipo de sobrevida no circuito independente de Vitória. Além das críticas em relação à estrutura para shows e ao despreparo dos veículos de comunicação locais, os cachês insuficientes e a falta de apoio já contribuiram para que fosse jogada a última pá de terra sobre muitas bandas boas que surgiram por aqui. De acordo com o guitarrista do Antemic, Alexandre, as turnês realizadas pela banda são muitas vezes deficitárias e o ambiente local também não permite vislumbrar um bom horizonte, a curto prazo.


A despeito de todas as dificuldades o A&P deseja sucesso e vida longa a todas as bandas que trilham esse caminho. Enquanto isso, o Antemic se revigora com o fôlego novo de seus novos integrantes para continuar, como tantas outras bandas, perseguindo seus moinhos de vento.




Estou disponibilizando uma pequena entrevista realizada com a banda para o Telejornal Laboratório do Curso de Comunicação da UFES. Lembrando que a qualidade ainda não é das melhores pois a entrevista foi feita de maneira independente, com filmadora digital e sem uma grande produção. Fiz uma pequena edição, um pouco superficial para adequar aos 2 minutos de espaço concedido no Telejornal Rascunho da Universidade. Agradecimentos especiais ao meu grande amigo Vitor Taveira (que ajudou com as filmagens) e ao monitor do LabCom, Mauro, pela força nas edições. Espero que gostem.





Sunday, April 29, 2007

ALEX KID MUSIC

Atualização de fim de semana é coisa rara. Ainda mais se tratando do Álcool & Prozac, cujo responsável tem mais coisa pra fazer (com todo respeito) do que passar o fim semana na frente do computador. Tem que ter realmente um bom motivo.

O "bom motivo" neste caso é uma nova banda que surge na capital do Estado do Espítiro Santo. Com o excêntrico nome de Alex Kid Music, o projeto já começa a mostrar seus resultados e gerar fortes expectativas. Comprove ouvindo a primeira música dos caras disponibilizada no MySpace. O Endereço é www.myspace.com/alexkidmusic

Trata-se do primeiro single da banda entitulado "Mal-dito". É uma pré-produção da faixa que estará no disco de estréia do Alex Kid. O disco está em fase de finalização, mas enquanto o público espera seu lançamento será presenteado com mais uma pré-produção ainda sem data para disponibilização na rede.

A dica é sempre ficar de olho. O frio começou a dar as caras em Vitória nesse fim de semana, mas esse inverno promete ser aquecido por muita coisa boa recém saída do forno. Muitas bandas estão em estúdio e se tudo sair conforme o esperado junho e julho serão meses de intensa divulgação e movimentação da cena independente capixaba.

Acompanhe o fotolog do Alex Kid Music para mais informações.
www.fotolog.net/alexkidmusic

Thursday, April 26, 2007

UM RÉzinho...POR FAVOR!!!


Kings of Leon. "Esquisitões", mas sem perder o peso característico do velho rock'n'roll.

Ouvir Kings of Leon sempre me leva a uma dimensão psico-musical um tanto quanto curiosa. Seus peculiares versos em uma nota só são uma verdadeira afronta a minha lógica “quadrissonante-ramoniana”. Para os que não sabem, fui criado musicalmente ao som das quatro notas sempre previsíveis que saiam da guitarra do Johnny Ramone. Durante muito tempo, música pra mim se resumia bem no polinômio ré + si menor + sól + lá = melodia. Quando o guitarrista e vocalista, Caleb Followill saca uma de suas intermináveis introduções em mi, minha mente logo me alerta: claro que logo virá um ré maior para fechar a harmonia básica da canção. Para o meu ledo engano, seguem-se inquietantes segundos de uma estática e monocromática nota só. Eu começo a pensar que realmente a música ficaria muito legal se, de repente, o rapaz resolvesse cair para um simples ré maior. Tão fácil, simples...elementar. Depois de quase um minuto sem trocar de nota, minha mente já grita alucinada “pelo amor de Deus...um ré...só um ré e eu juro que essa vai ser minha faixa preferida do disco”. Caleb me desafia. Ele sequer parece pensar em algo tão óbvio. Isso faz desse primeiro minuto de audição uma experiência um tanto quanto perturbadora, esquisita. Quando eu praticamente já tinha desistido, eis que me vem a nota salvadora. E é um RÉ MAIOR!!! Trata-se então de um momento de euforia, um momento “orgasmático”. Incrível, enfim conseguimos chegar na segunda nota. Algo parecido com alívio me toma por completo. A ponto de eu me esquecer completamente que tudo que ouvi foi um simples mi, seguido de ré maior. Qualquer aluno com três semanas de violão pode fazer isso. Mas eles acabam fazendo soar único. Não me pergunte como, ouça “Black Thumbnail” (musica 5 do novo disco da banda) e saberá do que estou falando.


Se para você “mi” é só uma sílaba e “ré” é a única marcha em que o automóvel anda pra trás, é melhor desconsiderar todo o parágrafo anterior. Simplificando: O Kings of Leon é uma banda que contraria todas as leis da física e nunca se comporta da forma esperada. Isso “obviamente torna o que é obvio incomum”. Quando mostrei a banda para minha namorada ela me disse que o som era “esquisito”. Tenho uma má notícia para ela. Em seu recém lançado álbum, “Because of the Times”, eles continuam “esquisitos”. É um bom adjetivo para uma banda que parece repudiar o comum.


Mas não é a única coisa que merece ser dita sobre o novo trabalho dos caras. O que surpreende dessa vez é o vigor. Do peso das guitarras aos riffs primais que preenchem o som. Isso serve para lembrar que, apesar de um pouco mais complicado que o de costume, o que sai das caixas de som do seu aparelho é rock. Rock feito com competência e sem frescura. Destaque para a bateria frenética de “McFearless”. O baixo é pontual e lidera grande parte dos versos do disco, dando o tom inquietante da faixa de abertura, a enxuta “Knocked Up”.


Bem verdade que nas últimas músicas o disco perde um pouco de pressão. Normal. É a hora dos irmãos Followill e banda mostrarem as várias nuances sonoras que existem entre um Mi e um Ré Maior. É a hora das baladas excêntricas “The Runner”, “Trunk” e “Arizona”, que fecham muito bem o álbum.


“Because of the Times” é um disco que vale muito a pena. Principalmente, porque nele o Kings of Leon brinca mais uma vez de reinventar o rock'n'roll, sem perder o que ele tem de melhor. Ouça a baixo algumas músicas do álbum.





Wednesday, April 25, 2007

BANDAS GÊMEAS...

Um sujeito acompanhado unicamente por seu violão folk resolve gravar um disco com algumas músicas autobiográficas. Até aí não tem nada demais. Acredito, inclusive, que muitas bandas que hoje conhecemos tenham começado exatamente dessa maneira. A partir disso, começam a aparecer algumas peculiaridades. A opção é por um projeto individual e autoral, com cerca de 10 músicas gravadas em um processo simples de voz e violão. Sonoridade pop e açucarada, com linhas melódicas de fazer partir o coração dos mais insensíveis. Apesar de ser um projeto de “um homem só”, a “banda” não leva o nome de seu compositor. Adivinhou, né? Claro que só pode ser o Dashboard Confessional. A banda surgida no ano de 2000, como um projeto paralelo de Chris Carrabba, na época a frente da banda norte-americana Further Seems Forever. Mas é melhor não ter tanta certeza assim.


Não tão distante do surgimento do Dashboard Confessional, mais precisamente no estado da Califórnia, aparece um outro projeto que promete confundir muito a cabeça dos fãs do “grupo” de Boca Ratón, Florida. Usando o nome de Secondhand Serenade, John Vesely lança, em 2005, um disco que segue a risca as características de seu predecessor.


São diversas as similaridades que aproximam Swiss Army Romance (2000) e Awake (2005), discos de estréia dos de Chris e John, respectivamente. Começando pelo visual de seus vocalistas (Topete espetado e incontáveis tatoos no braço) até o timbre da voz, que assusta de tão parecido. Não fosse pelas significativas mudanças do Dashboard nos últimos dois discos, ficaria realmente impossível distinguir um do outro.


John Vasely, apesar de vir de família de músicos e de uma longa história como baixista de bandas de rock, não tinha muita familiaridade com o violão. O primeiro encontro entre ele e o instrumento foi a pedido de sua esposa que queria que o moço a fizesse uma serenata. Funcionou tão bem que John afirma ter encontrado sua vocação e o disco de estréia “Awake” pode não soar nada original, mas tem qualidade. O projeto, lançado por um selo independente, já bate recordes de download na loja virtual do ITunes e sua página é uma das mais visitadas do MySpace. O mais engraçado é que o Dashboard não figura sequer entre as influências admitidas do Secondhand Serenade.


O som é totalmente “chupado” e nada original, mas dá pra matar as saudades do enxuto, cru e genial Swiss Army Romance. Em minha opinião, o disco mais bacana do DC. Ouça as duas bandas e confira sua similaridade praticamente surrealista.



Thursday, April 12, 2007

E o Clube Cetenário vai ficar pequeno...
Tratando-se do show do Udora, no dia 20 de abril, a frase só pode ser dita em tom de lamento.

Udora. Show no Chevrolet Hall, em 17 de março. Foto por Henrique Galtieri

Eu gostaria, sinceramente, de dedicar um post inteiro ao elogio da excelente iniciativa de trazer a banda mineira Udora para tocar em Vitória. Demorou. Não por falta de interesse do público capixaba e nem por má vontade da banda, todas as tentativas anteriores foram frustradas. Finalmente, temos um show dos caras agendado e confirmado para o próximo dia 20 de abril. É uma pena que nem tudo seja como o esperado, principalmente no que diz respeito à organização do espetáculo.

A começar pelo local escolhido. O Clube Centenário não apresenta a mínima estrutura para receber uma banda com a bagagem e o histórico do Udora. Arrisco-me a dizer que o local não tem estrutura para receber banda nenhuma. Além de uma péssima acústica para apresentações ao vivo, o clube não tem capacidade física para receber mais de duzentas pessoas com o mínimo de conforto necessário (Num lugar como o Centenário, se entende como "mínimo conforto" a remota possibilidade de ser encoxado ao menos por uma pessoa de cada vez).
Deixo claro que esta não é simplesmente uma crítica à produtora responsável pelo evento. Esta é mais uma crítica ferrenha a falta de estrutura de nosso Estado, que acarreta na ausência total de opções para a realização de eventos alternativos. Esta é também uma crítica ao mercado cultural e aos patrocinadores de nossa cidade que são incapazes de abrir os olhos para uma contundente realidade: os sinais de vida cultural em Vitória não podem aparecer esporadicamente, de micareta em micareta.

Talvez por essa razão um show tão importante contou com divulgação tão precária. Ou melhor, quase nenhuma divulgação. Não há nenhum tipo de informação sobre os pontos de venda de ingressos, para não dizer a ausência total de promoção do espetáculo. Não adianta também manter-se na superficialidade das críticas comuns aos responsáveis pelo evento. Seria muito fácil “tacar pedra” nessa galera, sem reconhecer que são tão poucos os que ainda tentam fazer algo pela cultura musical dessa cidade. Imagino as grandes dificuldades desse processo.

A BANDA

Além do Rock in Rio III, o Udora (ex-Diesel) tem uma passagem significativa pelo mercado norte-americano. A banda fez mais de 150 shows por todo o país, incluindo uma turnê com o ex-guitarrista do Alice in Chains, Jerry Cantrell. Trabalhou com produtores de amplo reconhecimento, como Matt Wallace (Maroon 5, Faith no More, Train), Gavin Mackillop (Toad the Wet Sprocket, Goo Goo Dolls), Bob Marlette( Black Sabbath , Seether, Ill Nino) e Thom Russo (System of a Down, Johnny Cash, Audioslave). “Liberty Square”, disco lançado durante esse processo de 5 anos nos Estados Unidos, conta com uma ótima produção e canções de qualidade.

Desde de janeiro, a banda está de volta ao Brasil, fazendo muitos shows (principalmente no eixo Minas-São Paulo). O grupo sofreu mudanças significativas em sua formação e conseqüentemente em sua sonoridade. Atualmente, prepara seu próximo disco, com faixas em português, “Goodbye Alô” e participa de turnês com bandas de verve mais popular, como seus conterrâneos do Skank.

Espero estar engando. Espero que, a despeito de todos esses problemas, a vinda dos mineiros seja um sucesso e abra as portas para muitas outras passagens do Udora por aqui. Que esta seja apenas o começo, ainda que não da forma esperada por todos os fãs do grupo. Só resta desejar mais "sorte" na próxima. Caso haja uma próxima vez.


Tuesday, April 03, 2007

NOVIDADES


Algum de vocês já se sentiu com aquela sensação de ter assumido mais responsabilidades do que poderia. Aquele desejo estranho de que o dia tivesse algo em torno de 36 horas, ou mesmo, pior que isso, a certeza de que se assim fosse ainda faltaria tempo para uma porção de coisas. Isso não é uma justificativa para a minha demora em atualizar o conteúdo do Álcool & Prozac. Acredito que as pessoas que acompanham o blog já devam estar bem acostumadas com o meu cronograma irregular. Eufemismos à parte, a verdade é que, se eu não tivesse mais nada para fazer, ainda assim não publicaria com mais regularidade do que o de costume.

O fato é que, mesmo entre suas atualizações, o Álcool y Prozac não pára. Estive pensando em uma nova utilidade do blog e acredito que isso vai agradar as pessoas que buscam o A&P para conhecer novas bandas e discos. Nada que venha escrito nessas linhas pode substituir a apreciação do som das bandas aqui mencionadas, e é por isso que começo a partir de hoje a disponibilizar links para downloads de discos citados nos textos. Os links ficarão na coluna esquerda da página junto com as capas dos discos. Espero que vocês gostem da idéia. Serão links do rapidshare e megaupload em que o usuário poderá baixar gratuitamente o trabalho dos artistas recomendados.

Mp3 e a música livre

O Mp3 (MPEG audio layer – 3) é um formato compacto de música para execução digital. A invenção deste formato é creditada ao Institut Integrierte Schaltungen (IIS), da Alemanha, juntamente com a Universidade de Erlangen e remota ao ano de 1987. A revolução consiste na forma com que o arquivo de música neste formato fica mais leve, mais fácil de ser compartilhado e armazenado. Esse resultado é obtido porque a conversão de WAV para Mp3 resulta na eliminação de todos os sinais sonoros inaudíveis aos humanos. Clique aqui e saiba mais sobre a história do Mp3

Não precisa nem dizer que o surgimento desta tecnologia causou/causa grande dor de cabeça aos chefões da industria fonográfica. Quem não se lembra da grande confusão enolvendo o Napster, há alguns anos atrás? O Napster foi o primeiro software de troca de música digital da web. Com o seu inevitável sucesso, vieram dezenas de processos, capitaneados inclusive pelo baterista do Metallica, Senhor Lars Ulrich. O software perdeu e acabou tendo que tirar do seu catálogo todas as canções protegidas por direitos autorais, ou seja, quase todas. Mas a vitória não resultou em muita coisa além da queda da popularidade do Metallica entre os fãs de todo o mundo, muito tempo e dinheiro perdido por parte das gravadoras e distribuidoras. Com a queda do Napster, surgiram outras centenas de programas de compartilhamento de arquivos. A ampliação contínua das possibilidades tecnológicas na internet também criou outras alternativas para quem curte música digital.

Apesar de polêmico, o Mp3 é uma realidade inquestionável. Mesmo muitos artistas têm utilizado o formato para divulgar seus trabalhos, principalmente no meio independente.

Pessoalmente acredito muito no potencial do Mp3 de revolucionar a música. Os principais interessados na venda de discos acusam a troca de arquivos desse tipo de pirataria. É até engraçado diante dos preços cobrados pelos discos. Em países como o Brasil, a maior parte da população não pode pagar por um disco nas lojas. Mas isso é discussão batida. Há algum tempo atrás, um artista só poderia viver dignamente se fosse “adotado” pelas grandes empresas do indústria fonográfica. Esse processo não raramente vinha acompanhado de inúmeras concessões artísticas em nome do potencial comercial das obras. Hoje o Mp3 se tornou uma forma eficaz de distribuição e promoção musical. Novas bandas surgem a todo instante na rede e conseguem certo prestígio no meio underground. Como no caso do Dead Fish, são as gravadoras que correm atrás dos músicos. A música ganha com isso. Um exemplo são os dois discos excelentes lançados pela Deckdisc. Ser independente hoje é uma opção, graças às facilidades da tecnologia digital.

Ainda não é uma maravilha, mas os ganhos do todo compensam as perdas de alguns. O que está em jogo não é o destino do disco. A magia de um trabalho completo, com encarte, produção gráfica, não morre. Recomendo a quem possa e queira que não deixe de comprar discos e prestigiar artistas que respeitem e admirem. A título de conhecimento e divulgação, os álbuns virtuais estão a disposição. Espero que vocês gostem e abro espaço para pedidos e sugestões. Valeu!

Tuesday, March 20, 2007

HOMENAGEM ATRASADA, MAS MERECIDA...


Andrea. Canto dos Malditos na Terra do Nunca


Neste último dia 8 de Março não pude deixar de pensar no papel importantíssimo das mulheres na música pop mundial. Acredito que seja mais que merecida uma homenagem do A&P a elas que, sem dúvida alguma, exercem uma influência central na maior parte das coisas boas produzidas até hoje. As mulheres não só serviram de inspiração para inúmeras belas canções como, desde o princípio, souberam empunhar instrumentos e fizeram história nos palcos de todo o mundo. A despeito de todo o preconceito que ainda teima em existir, elas marcaram o cenário musical ora pela sensibilidade e ternura características, ora pela agressividade e intensidade de suas obras.

Para início de conversa, deixo clara aqui a minha total parcialidade ao tratar do tema. Refiro-me neste texto a duas paixões que me acompanham a tanto tempo quanto minhas vagas memórias já não conseguem remontar. Duas paixões que muitas vezes se completam e até se confundem. Tenho minhas predileções quanto à música e, de certo, as tenho também quanto às mulheres.

Joan Jett não poderia ter sido mais enfática. Elas amam o rock’n’roll. E quanto a nós. Bem, nós as amamos. Desde as musas do Jazz das décadas de 50 e 60 – Billie Holiday, Nina Simone, etc. – até Rita Lee e Brody Dale (The Distillers), acho que amei todas elas, com intensidades diferentes, em momentos diferentes.

Aos 16 anos, por exemplo, o som do quarteto vegan de São Paulo, Dominatrix, fazia muito a minha cabeça. Letras engajadas, guitarras sujas e pesadas, uma bateria barulhenta. Quatro garotas em cima do palco, gritando alto, para marmanjo nenhum botar defeito. Se por um lado me arrebatava esse espírito independente e forte, hoje aprendi a não negligenciar a beleza leve e natureza doce de uma Norah Jones, Leslie Feist, entre tantas outras que ainda fazem meu coração bater muito mais forte.

Meus amigos, as mulheres são bem diferentes umas das outras. Somente um grande tolo para dizer que todas são iguais. Eu, pessoalmente, aprecio a personalidade feminina com a mesma diversidade com que aprecio minhas playlists.

Por falar em Norah Jones, na semana passada, o seu álbum mais recente “Not Too Late” ocupava o primeiro lugar da Billboard. O disco foi apontado pela crítica como o mais diversificado e ousado da cantora. Este é o seu terceiro disco e já na sua semana de estréia atingiu a marca de mais de 400 mil cópias vendidas nos Estados Unidos.

No Brasil, cabe destacar duas bandas novas e muito legais capitaneadas por “frontwomans”. De Salvador, O Canto dos Malditos na Terra do Nunca para mim é referência. Além dos vocais bem peculiares e melódicos, Andrea Martins é a letrista e principal compositora da banda. A presença da banda está garantida no Abril pro Rock 2007, festival que reune a nata do rock nacional na cidade de Recife. Andrea e companhia se apresentam no domingo, dia 15 de abril, no palco dois.

Também revelada no palco do programa Bandas Novas – extinto da grade da MTV Brasil, enquanto a emissora disperdiça espaço com enlatados norte-americanos do tipo “Made” - o Luxúria é outra banda que tem na sua vocalista Marjorie Storch um charme especial. A banda está na estrada, fazendo shows memoráveis e divulgando seu primeiro trabalho.

Para finalizar, deixo com vocês uma dica muito legal de outra banda nova com vocais femininos, o Night Driving in Small Towns. Tenho ouvido muito esse som. Acessem http://www2.blogger.com/www.myspace.com/nightdrivinginsmalltowns e divirtam-se. A banda foi eleita em dezembro uma das vinte melhores bandas independentes no MySpace, com a canção Close Encounters (Muito boa!!!). Aproveito aqui para deixar meus mais sinceros agradecimentos as três gerações de mulheres que fazem da minha vida muito mais feliz: Maria, Cristina e Marcele (vó, madre e amor, respectivamente), irmãs (Lê e Didi) e amigas (especialmente Tatá, Letícia e Iani). Amo vcs!

Thursday, March 08, 2007

Nelson Gonçalves e a memória analógica




Nos últimos tempos, quase sem qualquer motivo, me veio a lembrança deste disco especial. Um dos discos do acervo de bolachões da minha querida vovó. Lembro que eu adorava desorganizar aquela coleção. Olhava suas capas sem, contudo, entender a mágica que se escondia dentro daqueles objetos achatados que a mim pareciam mais quadros ou fotografias do que qualquer outra coisa. Talvez eu não estivesse tão enganado. Aqueles vinís eram sim como fotografias, retratos de um tempo, repletos de subjetividade e das mais diferentes colorações. Tempos depois eu viria a descobrir a principal dimensão daquelas obras, o som. Mas naquele momento eram as capas que me chamavam bastante atenção. Lembro de ficar petrificado diante da capa de um vinil do Iron Maiden. Não me lembro exatamente que álbum, mas, como sempre, a imagem do Eddie ilustrava de maneira horrenda e demoníaca o som do quinteto inglês. Aquilo povoou meus pesadelos durante algum tempo. Mesmo assim, eu gostava de admirá-la. Venho de família italiana e fervorosamente católica, não sabia por que “diabos” aquela atividade contemplativa me soava mais como uma suave contravenção. Algo que eu não deveria mas (ou talvez, por isso mesmo) adorava fazer. Sem saber, eu aprendia como a arte poderia ser de certa forma subversiva e me apaixonava por esse caracter insurgente que marca minhas predileções artísticas até hoje. Bem, cabe aqui também salientar que, ao contrário do que possa ficar subentendido, minha doce vovó nunca ouviu Iron Maiden. Aquele disco foi uma aquisição do meu tio mais novo que acabara junto aos demais artigos musicais da casa.

Lembro também que foi a partir deste acervo que descobri uma bandinha pop de liverpool chamada Beatles, conhecem??? Pois é, gostava muito de apreciar a capa do “Beatles for Sale”, de 1964 (até hoje um dos meus prediletos). Aos 12 anos, eu estaria pegando aquele vinil emprestado com a minha vó Bia e dando início a minha paixão pela música desses quatro ingleses estranhos, de cabelo lambido.

Leitores, me perdoem os rodeios. Falar da coleção de discos da minha vó me agrada bastante. Poderia escrever páginas e páginas em meio a tais recordações. Mas é a respeito de um em especial que eu gostaria de escrever hoje. Junto com o LP dos Beatles, minha vó me faria mais tarde o valioso empréstimo de um álbum de Nelson Gonçalves, entitulado “O Tango na voz de Nelson Gonçalves”. Bem verdade que, quando criança, a capa deste disco (apesar de extraordinária!!) não me chamara muita atenção. Um homem com vestimentas típicas da década de 1950 e um pomposo chapéu observava uma dama abraçada a outro cavalheiro com indumentária similar. Não sei porque essa capa não despertou meu interesse quando muleque, como também não sei o porquê de ter apanhado aquele LP emprestado. Com toda sinceridade, aquilo me parecia antiquado, ultrapassado, o que é uma impressão primária natural de uma obra da segunda metade da década 50. Por ironia do destino, aquilo foi parar no meu toca discos. Acho que foi indicação da minha querida vovó que era realmente apaixonada por aquele som.

Um mundo de coisas me separava da prensagem daquele LP. Guerras haviam começado e acabado, ídolos foram assassinatos, o movimento hippie, o punk, o muro de Berlim e até o grunge de Seattle, tudo aquilo entre nós. Entre o fim da década de 90, que era onde eu estava, e o ano de 1956, ano em que (se não me engano) o disco foi lançado, dez anos antes de minha mãe nascer. Um amor impossível, muitos pensariam. Por ironia do destino aquele LP foi parar nas minhas mãos e como um golpe fatal deste mesmo destino eu me apaixonei. Senti saudades. Tentei voltar no tempo. Até perceber que seria inútil.

A verdade era triste, eu nunca faria parte da boemia ébria que me abatia ao ouvir canções como “Palhaço”, “Corrientes 348” e “Vermelho 27”. Eu nunca andaria por aquelas ruas da capa do disco, não beijaria a garota do vestido preto. Por algum motivo, eu nascera no tempo errado. Passei muito tempo ressentido por ter nascido no tempo errado. A sensação de nostalgia piorava quando eu ligava a TV e via uma loura e uma morena rebolando seminuas ao som de algo um pouco parecido com música. Nada contra louras e morenas seminuas, muito pelo contrário. Mas faltava alguma coisa. Algo ficou perdido nesse processo de “evolução” da música pop (ps. Para os menos perspicazes, estou sendo irônico).

Com o tempo eu descobri que não precisava ligar a TV ou o rádio para ouvir música. Bem na verdade eu descobri que não deveria ligá-los esperando ouvir música boa (Permitam-me aqui, meus bons leitores, abrir uma excessão para a rádio Universitária FM - 104,7 - de Vitória, ES. Caso contrário, acabo levando esporro da patroa...rs). Outros atores surgiram na minha vida. Mas a paixão pelos discos da minha vó me acompanha. Eu aprendi que não dá pra voltar no tempo, mas, por mais amareladas que estejam as fotografias, elas sempre terão a capacidade de despertar nossas emoções. Talvez isso até melhore com o passar das décadas. Os discos que eu olhava como se fossem fotografias. Minha vó ainda tem o bolachão do Nelson, eu é que não tenho mais vitrola. Muitos me dizem que não existe mais música nesses tempos de MP3 players e parafernália digital. Eu não posso sentir raiva do MP3. Se não fosse por ele eu teria que me acostumar com a programação limitada das rádios. Mas, de fato, a mágica de colocar um disco de vinil em um aparelho toca discos faz um pouco de falta. Ainda estou procurando este álbum do Nelson Gonçalves em formato digital. Não é a mesma coisa, mas já é alguma coisa. Qualquer informação sobre como posso encontrá-lo me deixará imensamente grato.